Um artigo do linguista brasileiro Aldo Bizzocchi, publicado em 29/06/2015, no blogue associado à edição em linha da revista Língua Portuguesa, no qual o autor confronta as fórmulas de despedida em português com as de outros idiomas: «as fórmulas de despedida sempre contêm algo de esperançoso: o desejo do reencontro, o de que quem parte o faça em paz e o de que Deus guie os passos do viajante.»
«A hora do encontro é também despedida.» Belo verso do grande poeta e letrista mineiro Fernando Brant, morto recentemente. Toda despedida tem algo de doloroso, mesmo quando se sabe que o retorno será breve, pois despedir-se significa ficar longe de quem se ama, não importa se por algumas horas, por dias, anos ou para sempre.
Por isso, as fórmulas de despedida sempre contêm algo de esperançoso: o desejo do reencontro, o de que quem parte o faça em paz e o de que Deus guie os passos do viajante
Na primeira categoria, temos expressões como «até logo», «até breve», «até a vista» e «até mais». Fórmulas idênticas são as francesas au revoir e à bientôt, as italianas arrivederci e arrivederLa, a alemã auf Wiedersehen, as espanholas hasta luego e hasta la vista, a inglesa see you again, a sueca vi ses, a russa doh svidania, a africâner tot siens e a chinesa ts'ai chien.
Na segunda categoria, em que se fazem recomendações aos cuidados de Deus, estão os nossos «vá com Deus» e adeus (este último redução da expressão «eu te recomendo a Deus»), e suas equivalentes em francês (adieu), italiano (addio) e espanhol (adiós). O inglês goodbye é, na verdade, uma redução e deformação de God be with you («Deus esteja contigo»). Os turcos também pedem a proteção divina a quem parte: Alaha ismarladik.
Dentre as saudações que fazem votos de felicidade a quem está de partida estão o português «passe bem» e o inglês farewell, de mesmo significado. Equivalentes ao inglês são o holandês vaarwell e o dinamarquês farvel. Em grego, se diz khaire, «seja feliz», em árabe mae es-salaam, «vá em paz», em indonésio selamat tingal, «fique em paz», em hebraico shalom, «paz», e em havaiano aloha, «amor».
Mas há também formas diferentes de despedida: o japonês sayonara quer dizer «se tem de ser assim», o que demonstra a resignação diante da separação; o inglês so long indica que muito tempo se passará antes que as pessoas se revejam; o chinês ch'ang chih mei kan-chien significa «muito tempo sem se ver».
Mas o adeus também pode ser expresso na forma de um simples tchau. Essa expressão quase universal, já que presente em muitas línguas, se originou no italiano de Veneza ciao, equivalente ao italiano padrão schiavo, «escravo», modo respeitoso e humilde como as pessoas se colocavam perante as outras. Em italiano, ciao é até hoje saudação tanto de chegada quanto de partida, equivalendo a olá e a adeus.
E já que estamos falando em despedida, aqui nos despedimos dos leitores que tão fielmente nos acompanharam nesta coluna ao longo dos três últimos anos, não com um adeus, mas quem sabe com um até breve.
Artigo do linguista brasileiro Aldo Bizzocchi, publicado no blogue associado à edição em linha da revista Língua Portuguesa, em junho de 2015.