Controvérsias - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Português na 1.ª pessoa Controvérsias
Polémicas em torno de questões linguísticas.
Ciência em Portugal? <i>The show must go on</i>!
Ciência, universidades e financiamento

«É iniludível o facto de que [o] florescimento científico [veriifcado em Portugal] se fez, e faz, à custa de trabalho precário e minguadamente gratificado de bolseiros e investigadores contratados a prazo» –observa a linguista e investigadora Margarita Correia, em crónica  publicada no Diário de Notícias em 30 de maio de 2022, com críticas à política de financiamento das ciências em Portugal, com resultados gravosos para os investigadores e o seu futuro profissional.

A língua da verdade
Simplismo e propaganda sobre a guerra da Ucrânia

«Não sei. E tenho muitas dúvidas. A peculiaridade da sociedade actual é que estabelece dogmas inquestionáveis sobre incertezas extremas, porque responde em obediência absoluta às consciências nacionais e à consciência europeia. Na época que atravessamos, não entrar na política é coisa impensável.»

Artigo de opinião do professor e escritor António Jacinto Pascoal, a propósito da guerra da Ucrânia e de como a visão simplista deste conflito – democracia vs. autocracia, bem vs. mal – é condicionada pela história de ingerência política e colonização cultural movida pelos Estados Unidos, desde o final da 2.ª Guerra Mundial, na Europa e na América Latina. Transcreve-se com a devida vénia o texto saído no Público em 30 de maio de 2022, mantendo a ortografia de 1945 adotada pelo autor.

Assédio, poder e sistemas de oportunidade
Conceitos de assédio

«O assédio na Universidade [em Portugal] é de espectro largo e em alguns casos de assédio moral corresponde ao sentido da palavra no discurso militar, i. e., o que verdadeiramente o que se faz é cercar, sitiar. São casos de perseguição que duram, muitos deles, anos a fio.» – escreve o professor universitário Carlos A. M. Gouveia refletindo sobre o conceito de assédio e os seus tipos na realidade universitária. Texto incluído no jornal Público em 23 de maio de 2022 e aqui transcrito com a devida vénia.

A gramática e o género
Posições que ferem a igualdade de género

«Presidente, para quem não sabe, é o particípio presente do verbo "presidir". Assim era no latim (praesidente(m), no acusativo). Ora, no particípio presente, apenas existe uma forma, seja para o masculino, seja para o feminino» – afirma o professor universitário Carlos André, num artigo onde analisa a questão do género do ponto de vista etimológico e morfológico. Apontamento da página de Facebook do autor, em 13 de fevereiro de 2022 (artigo aqui transcrito com a devida vénia).

O português sem discriminação no mundo digital
Falar "errado" e policiamento linguístico

«[N]esse mundo sem fronteiras que é a Internet não faltam os policiamentos linguísticos e as discriminações contra aqueles(as) que ousam ferir o ideal do português padrão, correto, incorruptível. Para os que rompem com esse ideal não faltam adjetivos como “burros”, “ignorantes”, “assassinos da língua”, “analfabetos”, entre muitas expressões que circulam nas redes. Mas que português castiço seria esse?»

Crónica da linguista Edleise Mendes incluída no programa de rádio Páginas de Português (Antena 2), em 13 de fevereiro de 2022, a respeito de como o uso dos meios digitais levanta questões importantes sobre usos informais e norma linguística, especialmente no Brasil.

«Tem isto cabimento?»
A inversão do sujeito numa interrogativa global

«O título é Tem a Itália os políticos que merece? Odeio esta mania de pôr o verbo à frente. Claro que a nossa língua permite que o carro se ponha à frente dos bois. Mas fica esquisito». Assim escreve Miguel Esteves Cardoso, criticando a inversão do sujeito em interrogativas globais (de resposta sim/não), em crónica incluída no jornal Público, no dia 6 de fevereiro de 2022.

Quando os nomes próprios se transformam <br> em armas políticas
Antropónimos e eleições presidenciais em França

 «Uma das bandeiras que o candidato [às eleições presidenciais francesas] tem agitado na comunicação social é a do retorno aos "nomes franceses", defendendo a obrigatoriedade de "afrancesar os nomes próprios"», escreve a linguista Margarita Correia, em crónica publicada no Diário de Notícias de 3 de janeiro de 2022, a respeito do retorno à pretensa pureza dos nomes próprios franceses que é reivindicação de Éric Zemmou, candidato às eleições presidenciais francesas.

A língua cabo-verdiana <br> e a “quinta coluna” nacional-lusitanista
Por um bilinguismo real em Cabo Verde

«A relação entre o cabo-verdiano e o português não constitui um jogo de soma zero – pesem embora as consequências das políticas glotofágicas do regime colonial em Cabo» – sustenta Abel Djassi Amado, professor de ciência política e relações na Simmons University (Boston, Estados Unidos da América), defendendo o uso extensivo do cabo-verdiano e contrariando a opinião segundo a qual só o português está apto a veicular conteúdos científicos e técnicos.

A língua e os seus proprietários
Herança imaterial de quem a fala

«Nós, portugueses, não somos propriamente herdeiros da língua, como são os outros falantes do português: ela faz parte de nós, por essência e natureza, enquanto os outros têm que se reconhecer como herdeiros, por histórica doação. [Uma] língua não pertence a ninguém, ninguém se pode crer seu proprietário. E isso é uma lei universal e o melhor que lhe pode acontecer porque é isso que lhe dá movimento e energia. O colonizador não possui a língua, impõe-na como sua a partir de um gesto histórico de usurpação natural.»

Artigo do crítico literário António Guerreiro, in Público do dia 17 de dezembro, a  propósito do que escreveu o jornalista Miguel Sousa Tavares no semanário Expresso, intitulado "Eu, estátua, indefesa e silenciosa".

Joacine, o claro e o escuro
À volta do léxico associável à cor da pele

«Associar as dicotomias claro/escuro, luz/trevas ou dia/noite à concentração de melanina na pele é tão disparatado que se torna quase cómico», escreve o jornalista João Miguel Tavares*, discordando da deputada Joacine Katar Moreira e de todos os que, como ela, apontam a carga negativa associada à cor da pele em expressões e palavras herdadas dos tempos da escravatura e do colonialismo. 

Crónica disponível na edição de 7 de dezembro de 2021 do jornal Público, reproduzida a seguir, com a devida vénia, conforme a  norma ortográfica de 1945 do original..