Português na 1.ª pessoa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Manter como sinónimo de casar

Edno Pimentel  

As particularidades do português de Angola passam a ter um espaço próprio em O Nosso Idioma através da colocação em linha das crónicas do "Professor Ferrão", assinadas por Edno Pimentel e publicadas no jornal Nova Gazeta, de Luanda. Neste primeiro texto apresentado no Ciberdúvidas, o tema é o verbo manter, usado em Angola como sinónimo de contrair uma relação conjugal, ou seja, de casar.

 

– Nunca mais te vi. Pensei que já manteste!

– Adivinhaste. Já manteu mesmo.

À volta de «colmeadinho» e «dinheiro acrescentado»

Desprezamos muitas vezes, por puro snobismo linguístico, os nossos regionalismos. Alguns deles verdadeiras pérolas de economia e de expressividade. Tudo em prol de uma língua formatada, uniformizada. Igual no Minho e no Algarve.

A propósito das recentes di(con)vergências entre António Costa e António José Seguro, o principal semanário português publica um texto que traça uma espécie de biografia comparada de ambos, no qual, a dado trecho, se diz:

«Mesmo que subliminar, há um certo 'preconceito de classe' deste em relação aquele» (Expresso, n.º 2101, de 2 de fevereiro de 2013, caderno principal, p. 5).

Num artigo em forma de carta dirigida ao ministro Álvaro Santos PereiraMiguel Sousa Tavares reincide no mau uso do verbo realizar. A frase é esta:

«Acontece, Álvaro, por aquilo que já me foi dado perceber,
que você ainda não realizou bem onde está: num país chamado Portugal»
(Expresso, primeiro caderno, p. 7)

Deveria lá estar obviamente entendeu ou compreendeu, em lugar de "realizou", um «falso amigo» oriundo de uma tradução indevida do verbo inglês to realize, que significa perceber, compreender, entender. (...)

Há uns dias, aproveitando um feriado, terminei finalmente a leitura do Ensaio sobre a Lucidez, de José Saramago.

A linguagem literária permite liberdades estilísticas que a linguagem referencial, assente na norma, não aceita. As escritas dos porventura dois mais representativos escritores da nossa contemporaneidade, José Saramago e António Lobo Antunes, são, aliás, disso bons exemplos. E ainda bem que assim é, pois só assim a língua se recria, se reinventa, se enriquece. Pessoalmente, leio com grande prazer os textos de um e de outro.

Uma Beneficiência  não beneficente

Um dia destes chegou-me às mãos uma correspondência do Tribunal Central Administrativo do Sul (TCAS). O TCAS fica situado na Rua da Beneficência, em Lisboa, porém, o sobrescrito a que tive acesso refere Rua da Beneficiência.

Surpreendi no jornal português Record (n.º 11 848, de 20 de setembro de 2011, p. 40) a palavra bazookada (do inglês bazooka), confirmando uma tendência recente para alguns aportuguesamentos de contestável legitimidade. Neste caso, ainda por cima, não há nenhuma razão para que não se proceda ao seu aportuguesamento regular, desde logo porque já existem palavras da mesma família em português.

Mirandês: letras de uma língua que se apaga

«Década e meia após conquistar o estatuto de língua, o mirandês enfrenta um novo obstáculo: a desertificação da região de Miranda do Douro», conta-se nesta reportagem sobre a língua mirandesa, publicada no jornal português i de 16 de fevereiro de 2013.

Títulos iguais não significa que os documentos  em causa  sejam sinónimos, como se recorda neste texto do jornalista Wilton Fonseca, na sua coluna no diário i, de 14 de fevereiro de 2013.