A questão que apresenta é muito interessante e pertinente.
Como não tem dúvidas sobre as parónimas, vamos, então, esclarecer o conceito de palavras homógrafas. A homografia é um género específico de homonímia parcial e designa a relação existente entre duas unidades lexicais que têm a mesma forma gráfica, mas formas fonéticas e significados diferentes. Penso que a definição é consensual; o que não é consensual é o que se entende por «a mesma forma gráfica», pois autores há (e muitos) que consideram que são homógrafas palavras que variam na acentuação gráfica, como, por exemplo, falamos e falámos, para e pára, pelo e pêlo, sabia, sábia e sabiá, saia e saía, tem e têm.
Não é este o meu entendimento. Em rigor, considero que um acento assinalado graficamente é um sinal gráfico como outro qualquer, alterando a grafia da palavra, pelo que reduzo as palavras homógrafas àquelas que, efectivamente, têm rigorosamente a mesma grafia, mas fonia diferente como, por exemplo, conforto (substantivo) e conforto (forma verbal), erro (substantivo) e erro (forma verbal), molho (condimento) e molho (feixe), peso (substantivo) e peso (forma verbal), pregar (um prego) e pregar (um sermão), rola (substantivo) e rola (forma verbal), seca (adjectivo) e seca (substantivo ou forma verbal), sede (desejo de beber) e sede (estabelecimento principal de uma empresa), segredo (substantivo) e segredo (forma verbal), torre (substantivo) e torre (forma verbal).
Finalmente, vou referir-me ao ç, denominado «cê de cedilha» ou «cê cedilhado». Trata-se de um grafema diferente de c. Segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, parece ser de origem francesa ou provençal, e deve ter sido adoptado no século XIII, escrevendo-se nessa altura mesmo antes de “e” e “i” e tanto no início de palavra como em sílaba interior. A cedilha não pode, assim, ser equiparada a um simples acento que altera apenas a abertura de uma vogal, mas, juntamente com o c forma um outro grafema, totalmente diferente. Aliás, como expressão gramatical, se os acentos são sinais ortográficos, o ç, esse, então, é mesmo um grafema autónomo, independente de c.
Assim, reitero a posição de que as palavras moca e moça não devem ser consideradas homógrafas.