A 5 de dezembro de 2022, a Rádio Renascença publicava uma notícia com o título "Fernando Santos: 'Não gostei mesmo nada das palavras de Cristiano Ronaldo'", que fazia eco de um desabafo de Cristiano Ronaldo, captado pelas câmaras de televisão, aquando da sua substituição no jogo da Seleção Nacional frente à Coreia do Sul.
A dado passo, o jornalista escreve:
«Pelos movimentos labiais, é percetível que Cristiano Ronaldo disse "estás com muita pressa para me tirar", juntamente com dois expletivos.»
Na verdade, o que Cristiano Ronaldo disse e o jornalista quis compreensivelmente omitir foi: «Estás com muita pressa para me tirares, c***lho. F***-se!». Mas por que razão não escreveu simplesmente palavrões?!... Desde logo porque, estou em crer, a maioria dos leitores nem saberá o que é expletivo, ainda para mais usado como substantivo. Fico a pensar se não será algo ensinado nas escolas de comunicação social e que depois o jornalista verte algo acriticamente para o texto?! Ou então, e mais provavelmente, um novo anglicismo, cunhado a partir de expletive, «palavra grosseira, palavrão». Acresce a isto ser inusitado o uso de um termo da linguística, e não muito comum, num texto jornalístico.
Na verdade, gramaticalmente, expletivo é equivalente a redundante ou desnecessário, e usa-se também para significar as palavras ou expressões utilizadas para enfatizar, reforçar ou conferir graça a uma frase. Assim, o uso de palavrões, como os da frase supra de Cristiano Ronaldo, pode, de facto, considerar-se como expletivo.
Este particular uso de expletivo parece assemelhar-se ao uso de vernáculo. Tal como vernáculo hoje parece ser usado maioritariamente para significar «palavrões», sem que essa aceção esteja sequer dicionarizada, se a moda pega, o expletivo corre o risco de seguir o mesmo caminho…