Constitui um acto de moralismo sem sentido o expurgo dos dicionários dos chamados «palavrões». São palavras que existem, algumas têm origem no uso coloquial – uma das formas mais ricas de criação de palavras na nossa língua é a que está ligada aos termos conotados com a sexualidade – e outras aparecem fruto de palavras latinas (pénis vem de pincel em latim, por exemplo).
Alguns dicionários ao tentar iludir essas palavras caem numa situação à beira do ridículo. O Dicionário Complementar da Língua Portuguesa (9ª ed., Porto, Editora Educação Nacional, 1997), apesar de ser um dos mais recentes publicados, optou por não apresentar a palavra «caralho». No entanto, apresenta a palavra «carago», para a qual além de «peixe seláceo, também conhecido por peixe-frade», dá como segunda definição «caramba!». Mais antigo, o Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa, de António de Morais Silva (10ª ed., Lisboa, Confluência/ Horizonte, 1980) apresenta o termo, o que não faz o Grande Dicionário de Cândido de Figueiredo (16ª ed., Lisboa, Bertrand, 1981).