DÚVIDAS

Palavrões nos dicionários

Há algumas palavras que a grande maioria das pessoas conhece, mas tem o cuidado de não usar, pelo menos em certas circunstâncias. Trata-se de palavras ou expressões consideradas normalmente pouco delicadas ou mesmo indecentes.

No entanto, em certas regiões e em certas classes sociais, essas tais palavras ou expressões são de uso muito frequente, ainda que não tendo perdido completamente o seu carácter de pouca elegância. Suponho que imaginam a que género de palavras me estou a referir e que compreendam que, por decoro, me abstenha de ser mais explícito.

Essas tais palavras não se encontram geralmente dicionarizadas nos principais dicionários da língua portuguesa (p.ex no dicionário da Porto Editora).

O banimento dessas palavras dos dicionários, que por definição se desejavam exaustivos, é correcto do ponto de vista puramente linguístico? Ou, sendo mais explícito, essas tais palavras ou expressões de uso pouco recomendado fazem parte da língua portuguesa?

Resposta

Constitui um acto de moralismo sem sentido o expurgo dos dicionários dos chamados «palavrões». São palavras que existem, algumas têm origem no uso coloquial – uma das formas mais ricas de criação de palavras na nossa língua é a que está ligada aos termos conotados com a sexualidade – e outras aparecem fruto de palavras latinas (pénis vem de pincel em latim, por exemplo).

Alguns dicionários ao tentar iludir essas palavras caem numa situação à beira do ridículo. O Dicionário Complementar da Língua Portuguesa (9ª ed., Porto, Editora Educação Nacional, 1997), apesar de ser um dos mais recentes publicados, optou por não apresentar a palavra «caralho». No entanto, apresenta a palavra «carago», para a qual além de «peixe seláceo, também conhecido por peixe-frade», dá como segunda definição «caramba!». Mais antigo, o Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa, de António de Morais Silva (10ª ed., Lisboa, Confluência/ Horizonte, 1980) apresenta o termo, o que não faz o Grande Dicionário de Cândido de Figueiredo (16ª ed., Lisboa, Bertrand, 1981).

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