« (...) [Salientou-se] a necessidade de as instituições assumirem o compromisso de apostar na publicação de acesso aberto – contrariando o lóbi das grandes editoras internacionais, ao mesmo tempo, detentoras dos rankings que classificam as suas próprias publicações –, bem como na publicação científica bilingue (inglês e português) do trabalho científico, como os meios mais capazes de conseguir, por um lado, a desejada difusão internacional da ciência que se faz em português. (...)»
Decorreu de 26 a 28 de maio, em suporte virtual, a 4.ª Conferência Internacional sobre a Língua Portuguesa no Sistema Mundial, com o tema "Horizontes e Perspetivas da Língua Portuguesa". Organizada pelo Governo de Cabo Verde, no âmbito da presidência pro tempore da CPLP, contou com a colaboração da Comunidade e do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP). Os materiais estão disponíveis na página e canal YouTube da CPLP.
Até 2021 ocorreram três conferências e de cada uma resultou um Plano de Ação para a Promoção, a Difusão e a Projeção da Língua Portuguesa – Brasília (PAB, 2010), Lisboa (PALis, 2013) e Díli (PADíli, 2016). Estes Planos de Ação (PA) são organizados em torno de eixos definidos pelas temáticas das conferências respetivas e têm orientado a atuação do IILP desde então. O Instituto pôde, assim, contar com roteiros explícitos para as suas políticas e ação, o que se traduziu no desenvolvimento que o IILP conheceu desde 2010. Infelizmente, nem todos os países e instituições se deram ainda conta do potencial de desenvolvimento e crescimento gerado pelo IILP, não lhe conferindo os meios devidos e necessários ao seu funcionamento.
A 4.ª Conferência teve cinco eixos: 1) Políticas públicas para a promoção da leitura; 2) A diversidade na escrita literária; 3) Ensino da língua portuguesa em contexto de mobilidade; 4) Ciência, investigação e inovação em língua portuguesa; 5) Tecnologia e economias criativas: cenários emergentes em língua portuguesa, todos temas que interessam não apenas aos governos, como às sociedades. Muitas intervenções trouxeram dados fundamentados, de interesse comum, sobre a posição atual do português no sistema mundial, confirmando o notável crescimento que a língua conheceu nas últimas duas décadas, nos diferentes âmbitos de atividade; também detetaram problemas e dificuldades, mas, sobretudo, partilharam caminhos a seguir e propostas concretas, extremamente interessantes.
Por (de)formação pessoal e profissional, destaco as contribuições do eixo 4. Nele se destacou, entre outras, a questão do lugar ocupado pelo inglês e pelo português na publicação científica, salientando-se a necessidade de as instituições assumirem o compromisso de apostar na publicação de acesso aberto – contrariando o lóbi das grandes editoras internacionais, ao mesmo tempo, detentoras dos rankings que classificam as suas próprias publicações –, bem como na publicação científica bilingue (inglês e português) do trabalho científico, como os meios mais capazes de conseguir, por um lado, a desejada difusão internacional da ciência que se faz em português e, por outro, a sua circulação no espaço da CPLP, contribuindo para o desenvolvimento das sociedades. Permito-me citar o projeto GeoGebra & STEAM (sobre formação de professores e ensino-aprendizagem de matemática), apresentado neste eixo, como exemplo de uma iniciativa em curso, com enorme impacto social; destaco ainda o projeto Terminologias Científicas e Técnicas Comuns (TCTC), a que voltarei em breve.
A Comissão Organizadora do evento está de parabéns por ter conseguido, com empenho e dedicação, superar as muitas dificuldades com que se deparou, nomeadamente as resultantes da pandemia que vivemos, e por ter proporcionado excelentes momentos de partilha. O PA da Praia encontra-se em fase de redação e, espera-se, será aprovado na próxima reunião do Conselho de Ministros da CPLP. No IILP, ele é aguardado com expectativa e entusiasmo.
Texto da autora publicado no Diário de Notícias em 31 de maio de 2021.