«(...) Para a língua portuguesa é a primeira vez que aparecem os vocabulários de vários países alinhados, seguindo uma norma ortográfica comum, mas respeitando a variação que há em cada um dos Estados-membros. (...)»
Praia, 12 maio – O Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP) lançou hoje, na cidade da Praia, a plataforma digital do Vocabulário Ortográfico Comum (VOC) com cerca de 310 mil vocábulos de cinco dos nove países que compõem a comunidade lusófona.
Em declarações à agência Lusa, Margarita Correia, da equipa central do VOC, disse que a página integra, por agora, cinco Vocabulários Ortográficos Nacionais (VON): Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Timor-Leste.
[Esta] responsável, que é também membro do Centro de Estudos de Língua Geral e Aplicada da Universidade de Coimbra (CELGA-ILTEC), afirmou que Angola, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe estão em «três situações diferentes» para adotar os respetivos vocabulários nacionais.
«O VOC de São Tomé e Príncipe está pronto e carece ainda de validação das autoridades do país, o de Angola está a ser elaborado e, de acordo com as notícias que temos, estará pronto em 2018, e o da Guiné-Bissau não foi possível levar a cabo», indicou.
O caso “sui generis” da Guiné Equatorial
Em relação à Guiné Equatorial, embora tenha adotado o português como língua oficial e aderido à CPLP em 2014, Margarita Correia disse que «do ponto do ponto de vista técnico não faz muito sentido» ter um vocabulário porque o português «não está em uso» no país.
Neste sentido, a responsável disse que a Guiné Equatorial vai seguir o vocabulário comum dos demais membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que reconheceu formalmente o VOC na cimeira de chefes de Estados, que teve lugar em Díli, em julho de 2014.
Segundo Margarita Correia, a página do VOC (http://voc.iilp.cplp.org/) conta, por agora, com cerca de 310 mil vocábulos, sendo que desses 73 mil são topónimos de todos os países «já tratados e catalogados com algum grau de detalhe e pormenor».
No caso de Cabo Verde, Moçambique e Timor-Leste, é a primeira vez que, com recurso léxico gráfico específico, é feito um levantamento sistemático das palavras em uso nesses países, salientou à Lusa.
Sublinhando que o VOC é um «projeto aberto», [o] membro da equipa científica disse que a qualquer momento poderão ser introduzidas novas palavras, incluindo dos três países [lusófonos] em falta e com cada país a desenvolver ou atualizar o seu vocabulário.
Multilateralismo na gestão e política da língua
Margarita Correia disse que a apresentação oficial do VOC da Língua Portuguesa é a concretização de uma prorrogativa do Acordo Ortográfico e a realização de um dos objetivos do plano de ação de Brasília, que atribuiu ao IILP a responsabilidade de produzir o vocabulário.
«Para a língua portuguesa é a primeira vez que aparecem os vocabulários de vários países alinhados, seguindo uma norma ortográfica comum, mas respeitando a variação que há em cada um dos Estados-membros», avançou [o] membro da equipa científica da plataforma, que será apresentada no âmbito da XII Reunião Ordinária do Conselho Científico do IILP.
Margarita Correia disse ainda que é a primeira vez que a língua portuguesa leva a cabo um projeto multilateral de gestão da língua e da política linguística, em que todos os países foram representados em igualdade de circunstâncias.
Também sublinhou a importância da normalização e harmonização da língua portuguesa e da disponibilização da lista de palavras ao público, através de uma consulta na página oficial na Internet.
A base de dados digital tem ainda como objetivo a promoção, difusão e projeção da língua portuguesa.