Este mundo já não é como era, dirão os mais conservadores, «não se muda já como soía», lamentava-se o poeta.
A realidade altera-se constantemente em busca de novas formas e como ela muda também a língua. O caso do género das palavras é disso um belo exemplo. Bem sabemos que a língua não traduz o género dos seres reais, mas o que é certo é que os refere e, pelo menos no que aos seres humanos diz respeito, esta significação abrange, não raro, o género natural da entidade referida. Se assim não fosse, como explicaríamos o facto de idealizarmos um representante do género masculino quando se ouve a palavra árbitro? O mesmo se dirá das palavras pedreiro, general ou juiz.
Se o ser referido é naturalmente feminino e se a palavra permite a forma feminina, por que não adotá-la? Foi o que aconteceu com árbitra, palavra pouco usada porque o futebol se tem feito e falado sobretudo no masculino. Ainda assim a palavra árbitra veio à tona de água porque a realidade o exigiu: Stéphanie Frappart foi a primeira mulher a arbitrar um jogo da Liga dos Campeões masculina. Ora, Stéphanie não é um “árbitro”, é uma árbitra. E foi este o termo que se usou, e bem.
Falta agora que a mesma justiça lexical se cumpra no mundo militar e na esfera de algumas profissões.
Se a língua se molda, o que esperamos para moldar as nossas mentalidades?