1. Marcelo Rebelo de Sousa tomou posse nesta terça-feira (9 de março, p.p.) como Presidente da República de Portugal, dando início ao seu segundo mandato. Trata-se do sétimo Presidente da República desde o 25 de Abril, em 1975, o quinto do período constitucional, com início em 1976, e o 20.º desde a implantação da República no país, em 1910 (ver aqui). Esta ocasião justifica que se recorde que a expressão «Presidente da República» deve ser grafada com maiúscula, uma vez que se trata de uma designação de um órgão de soberania português. Já no caso de presidentes de outros países, a minúscula pode ser adotada porque se trata de um cargo, como se explica na resposta «Títulos e cargos, de novo». Recordemos ainda a distinção entre mandato e mandado. A noção de mandato diz respeito ao conjunto de funções que são delegadas numa pessoa ou numa entidade. Trata-se, assim, de uma autorização que se dá a outrem para praticar determinados atos. O mandado, por seu turno, designa a ordem dada por alguém, à partida superior, a qual deve ser cumprida (ver também aqui).
A tomada de posse do Presidente da República português é um bom motivo também para a releitura dos seguintes artigos, disponíveis no Ciberdúvidas: «Quem foi o primeiro presidente de um país?», «Um presidente americano entre vírgulas», «A bem da previdência e do respeito pela língua da República» e ««Viva a República» e «vivà República»» e a resposta sobre «A maior palavra da língua portuguesa».
2. O mundo, afetado globalmente pela pandemia, vai avançando a diferentes velocidades, deixando sinais de esperança no aparecimentos das vacinas indianas (covaxin e covishield) e na vacina chinesa verocell. Chegam-nos também notícias de que os países africanos mais desfavorecidos começam a recebem vacinas para administrar às suas populações, como acontece em Moçambique. Não obstante, em sentido contrário, parecem avançar países como o Brasil, que embora se encontre à beira de um colapso sanitário, continua a conviver com o negacionismo, como bem o comprova a utilização da expressão popular «Zoio tapado». Ao descalabro sanitário, junta-se ainda a subida dos preços dos bens essenciais, situação que um grupo de publicitários batizou como bolsocaro. Entretanto, em Portugal, a população começa a manifestar sinais de cansaço das medidas impostas, o que está a levar a situações de «confinamento em erosão». Os termos destacados registam a sua entrada no glossário A covid-19 na língua e a eles se juntam «convívios ao ar livre», «limbo jurídico», «positividade alta/baixa», «valores de incidência», «vão ficar chorando até quando?» e «venda ao postigo».
3. A correção de construções que incluem formas dos verbos cursar e diagnosticar dá o mote à primeira dúvida analisada no Consultório, onde se abordam expressões como «a doença cursa com diarreias» ou a construção «ser diagnosticado com». É também a busca da correção, desta feita ortográfica, que motiva uma questão relacionada com a forma correta de grafar "mi-mi-mi" ou o topónimo irlandês Ulster (ou Úlster). Ainda uma questão sobre se se deverá escrever com maiúscula a expressão «paços do concelho». Por fim, a análise de uma oração com função de complemento de nome e a abordagem do pronome relativo quem para hispanofalantes.
4. A recente edição do Festival da Canção 2021 português levantou imensas questões de natureza linguística. Para além de ter sido selecionada uma canção em inglês para representar o país, os problemas articulatórios e sintáticos evidenciados pela apresentadora foram notórios – como assinala o jornalista José Mário Costa, neste seu apontamento para a rubrica Pelourinho.
5. A investigadora cabo-verdiana Vanusa Vera-Cruz numa palestra académica nos EUA, apontou diversas passagens de cariz racista no romance Os Maias, de Eça de Queirós. Posteriormente, numa entrevista à agência Lusa, defendeu a inclusão d notas de «cariz pedagógico» a serem trabalhadas em contexto de sala de aula. A notícia transcrita, com a devida vénia, fica disponível na rubrica Controvérsias. Esta posição tem motivado dúvidas em torno da legitimidade de uma visão do século XXI sobre uma obra do século XIX (ver, por exemplo, aqui).
6. Palavras Cruzadas, o novo programa da Antena 2 à volta da língua portuguesa – de segunda a sexta-feira (9h55 e18h20) – , na presente semana, tem como convidado o epidemiologista Salvador Massano Cardoso. Em foco estarão, entre outros temas, a importância dos nomes das pessoas, o sentido correto do termo adito, a expressão «vencer a doença», doente, paciente, utente, cliente (o que somos, de facto, quando vamos ao médico?), a distinção entre pandemia, epidemia e endemia, e «o lado bom do vírus».