«Eu sou contra este acordo, mas sou ainda mais contra os que estão contra (...). É uma reacção reaccionária», afirma o escritor angolano Pepetela. Em boa verdade, a polémica do Acordo Ortográfico já se arrasta há tanto tempo, que quem não entrou em militâncias gostaria que o assunto caísse, definitivamente, ou para o lado do não, ou para o lado do sim. Daí o repto: Acorda, Acordo, ou dorme para sempre!
1. O Acordo de Londres acaba com a obrigação de traduzir as patentes para português. Em Lisboa, o secretário de Estado da Justiça e da Modernização Judiciária disse que esta é uma desvantagem que tem de ser assumida, porque Portugal não pode ficar de fora deste acordo. As patentes passam então a ser registadas somente em inglês, francês e alemão.
A oposição a este estado de coisas não é nova e já originou a petição Salvaguardar a Língua Portuguesa.
2. Vasco Graça Moura está de regresso para atacar o Acordo Ortográfico. Pelas metáforas que usa, percebe-se que a sua rejeição é genuinamente visceral.
3. A propósito de estrangeirismos e neologismos, divulgamos aqui um texto do escritor Mário de Carvalho, que corresponde à sua elocução num encontro promovido pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional.
O exagero no uso de estrangeirismos é tema da paródia de Zeca Baleiro e Zeca Pagodinho neste Samba do Approach.
Não é paródia, mas realidade crua, o exemplo aqui trazido por um nosso consulente: «As actividades do Outsourcing de Serviços incluem: (1) Business Process Outsourcing; (2) Outsourcing de Infra-estruturas Informáticas; (3) Contact Centers e (4) IT Consulting» — lê-se na página do sítio da Reditus. Não se trata, sequer, de uma estratégia com vista à eficácia comunicativa, dado que a maioria dos anglicismos aí usados não são reconhecíveis pelo público comum.
Aconselhamos, a este propósito, uma (re)leitura de alguns textos aqui publicados:
«Se não se perceber o processo que está por detrás de uma língua, não se é capaz de aprender.» Rafael Salaberry, professor no departamento de Espanhol e Português na Universidade do Texas, refere-se ao ensino do português como língua não materna, mas a assunção é válida também para o ensino do português língua materna. Concomitantemente, Salaberry conclui a respeito da excessiva crença nos meios tecnológicos, no que toca à aprendizagem de línguas. De facto, estes não são a panaceia no processo de aprendizagem. Mas também não são os cerceadores da evolução linguística dos falantes. São apenas um instrumento.
Isso mesmo defendeu Paulo Markun, jornalista e escritor brasileiro, no programa Câmara Clara do dia 25 de Abril de 2010, na RTP 2, em contraponto diferido com Mário de Carvalho, escritor português: a causa da limitação vocabular dos jovens de hoje não está na Internet, que é muito mais do que blogues e redes sociais, porque a Internet é apenas uma ferramenta, podendo, como tal, ser usada eficazmente ou não.
O Serviço Europeu de Acção Externa, órgão a ser criado com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, poderá excluir o português como língua de trabalho e restringir-se ao inglês, ao francês e ao alemão. A eventual exclusão do português mereceu do presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros da Assembleia da República, Ribeiro e Castro, forte reprovação, seguida de apelo a um protesto por parte do governo português.
Porém, a par das reprovações e dos apelos, valia a pena inquirir sobre o(s) motivo(s) por que o peso do número de falantes de português (250 milhões), argumento tão repetidamente invocado, não se reflecte numa afirmação natural da língua portuguesa na Europa e no continente americano. Será um problema de imagem, ou o corolário de um insuficiente domínio económico dos países que a têm por língua oficial? Será consequência da apatia da investigação em linguística portuguesa, ou fruto da ausência de uma estratégia concertada para o ensino e a produção cultural em português? Ou será, ainda, que todas estas causas se misturam?
Só escreve errado quem quer é o título de um artigo de Deonísio da Silva, no AdNews, que, em face dos maus resultados de alunos brasileiros no domínio da escrita, advoga a implantação da leitura extensiva no ensino da língua. Se transportarmos a situação descrita neste artigo para o contexto português, vemos que as diferenças não são nenhumas. Ainda há dias dávamos aqui notícia de alunos universitários incapazes de redigir um texto gramaticalmente correcto e expressivamente eficaz.
Já aqui anunciámos o I Encontro de Escritores de Língua Portuguesa em Natal, no Brasil, que conta com a participação de 30 escritores. Em projecção, na edição do Público do dia 20, estão três nomes fortes: João Ubaldo Ribeiro, Carlos Reis e José Eduardo Agualusa.
A Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa de Braga está a organizar o congresso internacional Línguas Pluricêntricas: Variação Linguística e Dimensões Sociocognitivas, que decorrerá de 15 a 17 de Setembro. Estará em foco a exploração das dimensões socioculturais, conceptuais e estruturais da variação e da mudança em línguas pluricêntricas, com especial destaque para as relações entre variedades nacionais.
São conferencistas convidados Peter Auer (Universidade de Friburgo), Enrique Bernárdez (Universidade Complutense de Madrid) e Ataliba Teixeira de Castilho (Universidade de São Paulo), entre outros.
O prazo para a submissão de resumos termina a 30 de Abril.
1. A língua portuguesa já recebeu vários epítetos: desde petróleo a trunfo. Paralelamente tem havido regulares investimentos por parte de instituições públicas. Mas falta saber que resultados têm sido obtidos e quais as reais adversidades dos agentes que estão no terreno — físico e virtual.
2. Muitas universidades criaram já uma espécie de ano zero destinado a preparar os alunos recém-chegados para a realização das tarefas básicas de redacção, compreensão e interpretação textual. Mais gastos para remediar o resultado de décadas de facilitismo educativo generalizado (e institucionalizado) em Portugal.
3. 71.º episódio do magazine Cuidado com a Língua! (RTP 1, dia 19, 21h20*, disponível também em podcast): o convidado é o maestro António Victorino d’Almeida, que nos traz o percurso das palavras comummente usadas para falar de música, dos instrumentos de uma orquestra e do nome das sete notas musicais. Fique ainda a saber a origem da expressão «as paredes têm ouvidos», entre outras curiosidades.
* Hora de Portugal continental.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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