Gonçalo M. Tavares, num recente encontro em Moscovo com estudantes universitários, alertou para os perigos da manipulação das massas, através do hábil e pernicioso uso da língua, que encontra terreno fértil na iliteracia. Defendeu, por isso, a generalização de cursos específicos para "pessoas comuns", de modo a muni-las com saberes e competências que contrariem a adesão cega a uma representação falaciosa do mundo.
Norman Fairclough, em 1989, declarou dois propósitos que presidiam à publicação do seu livro Language and Power: «o primeiro foi contrariar a tendência generalizada de subestimar a importância da língua na produção, preservação e alteração das relações sociais de poder; o segundo consistiu em ajudar a aumentar a consciência de como a língua é lugar de dominância de umas pessoas em relação a outras, porque a consciencialização é o primeiro passo para a emancipação» (Language and Power, Introdução*).
Estas serão as linhas estruturantes dos cursos sugeridos por Gonçalo M. Tavares.
E, justamente, o Centro de Linguística da Universidade do Porto, nos dias 4 e 5 de Junho, vai receber o professor Christian Plantin no âmbito das jornadas Manipulação e Discurso.
* Tradução livre.
Um discurso compõe-se de muitas palavras. De entre elas, é possível distinguir um grupo restrito. Dele fazem parte palavras que, marcadamente, se repetem ao longo do texto. São as palavras-chave. Palavras que se solidarizam no arranjo de um dado campo lexical e que estabelecem entre si relações de hierarquia, equivalência, oposição ou parte-todo. Encerra-se nelas uma representação estruturada de um dado domínio da realidade.
No discurso de Bento XVI à Pastoral Social, as palavras de mais alta frequência foram amor, caridade e Deus. Palavras pronunciadas em português.
E o facto de o papa falar em português e de o seu discurso ser reproduzido em todas as televisões do mundo traz protagonismo à língua.
Escrever sem erros ortográficos é um desafio; corrigir os erros dos outros é uma missão...
Estas formulações deixam ver que o atropelo ortográfico se banalizou, a ponto de, no portal educativo Educare, alguém se ter sentido impelido a pôr ordem nesta deriva.
Fala-se em desleixo, desamor e desrespeito pela língua portuguesa, que no erro ortográfico encontra um primeiro e mais evidente sintoma.
Levando em consideração o sucesso de publicações sobre regras de uso imediato da língua, como, por exemplo, o do livro SOS da Língua Portuguesa, que já vai na 4.ª edição, não se pode falar só em desinteresse generalizado. Afinal, quem gosta de ver um erro seu ser sublinhado a vermelho por outrem, seja em que circunstância for?
Há indícios, portanto, de que as causas desta situação podem não ser só de ordem atitudinal, mas também estrutural, tomando a dianteira a má escolarização prolongada e a ausência de hábitos de leitura.
Da instabilidade ortográfica, na Idade Média, à escrita etimológica, no Classicismo, passando por uma combinação entre fonia e grafia, no período romântico, para chegar à génese da primeira questão ortográfica, nos alvores do século XX. Vale a pena conhecer um pouco da história da ortografia portuguesa, traçada aqui pela nossa consultora Edite Prada.
As reacções emotivas às alterações ortográficas fizeram-se sentir, veementemente, então como agora:
Entretanto, passou um século.
1. Acabou de chegar às bancas o Dicionário de Dúvidas, Dificuldades e Subtilezas da Língua Portuguesa, da autoria de Edite Estrela, Maria Almira Soares e Maria José Leitão. A selecção das 1400 entradas que constituem o elenco do dicionário teve por base o VOLP da Porto Editora.
2. A primeira edição foi em 1975, e o seu inventário lexicográfico é uma referência em toda a lusofonia: merece portanto a edição comemorativa. Falamos do dicionário Aurélio.
3. Não versando sobre língua ou léxico, mas adoptando já o Acordo Ortográfico, a Gulbenkian parte para a edição de um dicionário sobre o património português, intitulado Património de Origem Portuguesa no Mundo, coordenado por José Mattoso.
4. É o vento ventando, é o vento que uiva e ruge e é o vento que sopra. De todas as opções, pôr o vento a soprar é a mais trivial, pois se até aparece no discurso dos boletins meteorológicos: «o vento soprará de norte, com rajadas de...» Por isso, os estudos literários chamam-lhe catacrese ou metáfora morta. Mas de morta tem ela pouco, como explica Eugénio Coseriu em El hombre y su lenguaje.
Ir borda fora, de vento em popa, na crista da onda; andar à deriva, remar contra a maré e meter água; mas há mais marés que marinheiros para quem se sente como peixe na água... As expressões fixas, os ditos e os provérbios que invocam a aventura marítima estão ainda vivos na língua. Carlos Reis aborda parcialmente este fenómeno num texto que reproduzimos na actualização deste dia.
1. «Há línguas moçambicanas que correm o risco de desaparecer. Há escolas que continuam a proibir os estudantes de se exprimirem nas suas próprias línguas dentro do recinto escolar», revelou Mia Couto, no encontro do primeiro Dia da Língua e Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Maputo.
Solução proposta: nacionalizar todas as línguas de Moçambique, mantendo-se o português como língua oficial.
Em Portugal, este primeiro Dia da Língua da CPLP foi assinalado com a visita do presidente da República de Portugal à Escola Secundária Eça de Queirós, em Lisboa, que integra alunos de 35 nacionalidades.
2. Decorre, entre 6 e 8 de Maio, na Ericeira, Portugal, a Oficina Multilateral de Desenvolvimento Profissional, eTwinning em Português.
O eTwinning, acção integrante do Programa Life Long Learning, da União Europeia, tem como objectivo principal criar redes de trabalho colaborativo entre as escolas europeias, através do desenvolvimento de projectos comuns, com recurso à Internet e às tecnologias de informação e comunicação.
3. Em 8 de Maio, em Cospeito, Lugo, Galiza (Espanha), realiza-se a 3.ª e última sessão do ciclo formativo sobre o novo Acordo Ortográfico, levado a cabo pelo pólo de Vigo do Centro Cultural Português do Instituto Camões e destinado a professores de Língua Portuguesa na Galiza.
4. No programa Língua de Todos (RDP África, dia 7, 13h15*, com repetição no dia seguinte, às 9h15*): uma viagem com a professora Elsa Rodrigues dos Santos ao português e à língua cabo-verdiana, na vasta obra de Manuel Ferreira, escritor de duas pátrias. Ainda, no rescaldo do léxico do precário e maduro Maio: qual a tradução para a expressão lay off?
5. No programa Páginas de Português (Antena 2, dia 9, 17h00*, também disponível em podcast): conversas em torno da língua e da linguagem, com o filósofo José Gil, a escritora Julieta Monginho, autora de A Terceira Mãe, obra vencedora do Grande Prémio de Romance de Novela da Associação Portuguesa de Escritores, e com a poetisa angolana Ana Paula Tavares. Tempo, ainda, para as rubricas sobre o que fica e o que muda com o Acordo Ortográfico e Uma carta é uma alegria da terra, em colaboração com os CTT, Correios de Portugal.
6. No 74.º programa do magazine Cuidado com a Língua! (RTP 1, dia 10, 21h20*, repetido nos demais canais da televisão pública portuguesa e também disponível em podcast): Diogo Infante recebe lições de canto com a soprano Ana Ester Neves. E qual a diferença entre uma soprano e uma contralto? E entre um tenor e um barítono? E quantos sentidos tem a palavra pauta? Outra curiosidade: a origem do termo solfejo. Finalmente, algumas pronúncias de plurais… traiçoeiros: coro/coros, acordo/acordos, molho/molhos…
7. Por motivos de gestão de serviço, no dia 7, sexta-feira, não haverá actualização. Regressaremos dia 10.
A língua portuguesa faz parte do património histórico de Timor e é símbolo da identidade nacional timorense, mas apresenta sinais fracos de vitalidade na comunidade. Levantam-se vozes — já abertamente — contra a vigência do português como língua oficial, em favor do inglês e do indonésio. O que dizem os países lusófonos? E — acima de tudo — o que têm feito em prol da escolarização em português, com vista a superar as consequências adversas decorrentes do isolamento geográfico da língua portuguesa em Timor?
«É uma ilusão acreditar que hoje falamos todos a mesma língua» — foi o que declarou o escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, quinta-feira, em Natal, no I Encontro de Escritores da Língua Portuguesa, referindo-se às diferenças do português falado nos países onde é o idioma oficial.
Poucos dias depois destas declarações, Maputo acolhe (no dia 5 de Maio) as comemorações do Dia da Língua e da Cultura da CPLP (Comunidade dos Países da Língua Portuguesa), instituído em 2009, no decurso da reunião do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua portuguesa, realizada na Cidade da Praia, Cabo Verde.
A propósito do fim da obrigatoriedade da tradução para outras línguas que não o inglês, o francês e o alemão de patentes científico-tecnológicas, estipulado pelo Acordo de Londres, o secretário de Estado da Justiça e da Modernização Judiciária de Portugal deu como alternativa a tradução automática.
Jadyr Pavão Júnior, jornalista brasileiro, traça aqui um percurso do sonho e do esforço do Homem para se redimir de Babel, apresentando, de seguida, a tradução automática do Google como a solução final. O texto é bastante eufórico. Mas será a tradução automática o fim da profissão do tradutor? Será ela a morte do multilinguismo? Será nela que efectivamente reside a comunicação sem barreiras?
Apresenta-se abaixo a tradução desta abertura pelo Google Translator. O consulente avaliará por si.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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