Chama-se «Na Ponta da Língua» e é uma iniciativa brasileira de divulgação das mudanças promovidas pelo novo Acordo Ortográfico. O projeto envolve apresentações em escolas, mas disponibiliza também recursos na Internet, como vídeos e uma cartilha com as principais mudanças ortográficas.
Em Timor-Leste, três escolas do ensino básico vão ter aulas nas línguas maternas locais, em distritos onde não são falados tanto o português como o tétum, línguas oficiais do território. O ministro da Educação João Câncio assegura que este projeto-piloto não vai resultar na adoção das línguas locais como línguas de instrução, mas apenas como instrumentos de introdução do conhecimento. Trata-se uma estratégia pedagógica para superar as dificuldades dos alunos que entram na escola, para quem o português é uma língua estrangeira.
Em reunião extraordinária (em Luanda, a 30 de março), os ministros da Educação da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) recomendaram a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 nos países-membros, no âmbito do acordo geral de cooperação relativo à defesa e promoção da língua portuguesa. A proposta de ajustamento do Acordo Ortográfico, a criação de formas de cooperação entre a língua portuguesa e as demais línguas naturais (em convívio) e de projetos para a elaboração dos vocabulários ortográficos nacionais foram, também, objeto desta VII reunião dos ministros da Educação dos oito países lusófonos.
Nocturno Indiano, Afirma Pereira, A Cabeça Perdida de Damasceno Monteiro, Requiem e Os Últimos Três Dias de Fernando Pessoa foram apenas algumas das obras de Antonio Tabucchi, escritor italiano, que muito fez pela língua portuguesa: professor de língua portuguesa na Universidade de Siena, tradutor e crítico da obra de Fernando Pessoa, enfim, um italiano que «sonhava frequentemente em português». Na semana em que se lamenta a sua perda, nada melhor do que ouvi-lo nesta entrevista a João Almeida, na Antena 2. Uma deliciosa conversa com comparações metafóricas entre o português e o italiano, críticas ao jornalismo bacoco, e rejeição do normativismo na língua, esse «colete de forças».
Escreveu prosa, poesia e teatro. O nome Millôr Fernandes figurará entre os maiores da língua portuguesa. Obras como 100 Fábulas Fabulosas ou Lições de Um Ignorante fazem as delícias de leitores de qualquer geração. 30 Anos de Mim Mesmo traça uma viagem desde o início da sua carreira (com 19 anos) até à celebridade. O autorretrato vem confirmar que a genialidade é sempre humilde:
«Sou apenas um jornalista que trabalha para ganhar a vida. Sou melhor do que a maioria, o que não é difícil, e inferior a muitos, muitos mesmo. Não há dentro de mim nenhum sentimento de superioridade quanto aos primeiros nem de competição quanto aos outros. Minha vida não passa pela competição. Sou um dos inventores do frescobol – o único esporte com espírito esportivo. Até hoje ninguém inventou nesse jogo aposta ou ganhadores. Em volta de mim, amados amigos, também ninguém ganha ou perde. Vive.» (in O Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr).
Depois do estudo do ISCTE, coordenado por José Paulo Esperança, que concluiu que a língua portuguesa representa 17% do PIB nacional, o estudo da autoria da Espírito Santo Research – Research Editoria, recentemente divulgado, apurou o número de 4,6 do PIB mundial. Nenhum estudo explica, porém, a motivação para a falta de investimento, coordenação e trabalho em ampla escala no ensino de português língua estrangeira.
Uma língua cheia de duplicações é uma língua de excessos de excrescências? Repare-se na duplicação das formas deadjetivais:
largueza – largura
clareza – claridade
pureza – puridade
Não devia a língua ser exata, não redundante e, em todas as ocasiões, económica? Nenhuma língua natural tem essas características, de facto.
Em destaque na atualização deste dia estão a formação de particípios passados e o uso do dativo de interesse.
Sobre um e outro tópico, sugerimos a revisitação de alguns textos:
Morto, matado e morrido
Dativo de interesse, complemento circunstancial e modificador
Dativo ético e de posse em português
Novamente o pronome de interesse: «Vai-me a casa»
O léxico de uma língua é uma espécie de promontório para os estereótipos culturais de uma comunidade linguística: «O tratamento das unidades que designam conceitos relacionados com raça e/ou etnia nos dicionários merece uma reflexão mais aprofundada. Deverão estas unidades ser tratadas sem qualquer reserva no dicionário? Compete ao lexicógrafo definir o que é socialmente correto? Deverá assumir uma atitude meramente descritiva em relação aos dados que descreve?». Margarita Correia, vice-presidente do ILTEC, propõe-se responder a estas questões no artigo «A discriminação racial nos dicionários de língua: tópicos para discussão, a partir de dicionários portugueses contemporâneos». Um tema de renovada atualidade com a ação judicial contra o Dicionário Houaiss, acusado no Brasil de referências «preconceituosas», «xenófobas» e «racistas».
A obra de Guimarães Rosa é uma obra exigente. Parte dessa fama advém do léxico: arcaísmos, regionalismos e neologismos convivem lado a lado na mesma página:
«Quanto aos neologismos, o poeta João Cabral de Melo Neto relataria que, em seu convívio com o autor de Sagarana, presenciara Guimarães Rosa dizer que alguns vocábulos ele próprio, Rosa, os fabricava, quiçá por engenho e alquimia. Por esta insólita razão linguística, o singular inventor reivindicava para si uma espécie de certificado de paternidade: “— Esta palavra eu mesmo a fiz, Cabral”» (in Por que ler Grande Sertão: Veredas).
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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