O respeito pela palavra original, pelo étimo (latino ou grego, na grande maioria), é um dos sinais de erudição, reveladores do orgulho pela língua culta, fruto da preservação, ao longo de séculos, de palavras decalcadas do latim literário.
É o caso de rácio, hífen, hímen e sémen — objeto de análise de duas respostas —, cuja marca de aportuguesamento se manifesta, praticamente, pela acentuação gráfica.
Para além do léxico, outros são os temas, de igual destaque, da atualização do Consultório: a nível do discurso, a legitimidade de supressão de certas palavras e de tempos compostos de sonoridade estranha, o uso de modos verbais exigidos por determinadas sequências; no domínio da sintaxe, a análise da função de um adjetivo, colocado entre vírgulas, numa frase.
O uso (ou não) do hífen continua a ser uma das principais dúvidas relacionadas com o novo Acordo Ortográfico. Ao consultório do Ciberdúvidas continuam a chegar perguntas sobre esta matéria, como é o caso destas questões sobre as palavras pré-concecional/preconcecional, primo-infeção e semirrealista. Lembramos que está disponível no Portal da Língua um conjunto de recursos onde a grafia das palavras e outras dúvidas relacionadas com o léxico podem ser satisfeitas.
O discurso define o autor. É essa a razão pela qual todos nos preocupamos em construir estruturas corretas nas mais simples frases que usamos. Mas, quantas vezes, recorremos, intencionalmente, a certas construções que provocam estranheza a quem as ouça?
São os casos das respostas deste dia em que se reflete sobre a ocorrência de redundância ou de falta grosseira em «ambos os dois» e sobre a legitimidade do uso do artigo/determinante definido na expressão «Em/na minha opinião».
O ministro do Ensino Superior, Ciência e Inovação cabo-verdiano, António Correia Silva, pede aos investigadores para encontrarem métodos e soluções eficazes para o ensino da língua portuguesa no contexto escolar de Cabo Verde, onde o português convive ao lado da língua materna que é o crioulo. O apelo foi lançado no primeiro Workshop Internacional sobre o Ensino da Língua Portuguesa, Matemática e Disciplinas Afins, promovido pela Universidade de Cabo Verde, de 2 a 4 de abril.
Chama-se «Na Ponta da Língua» e é uma iniciativa brasileira de divulgação das mudanças promovidas pelo novo Acordo Ortográfico. O projeto envolve apresentações em escolas, mas disponibiliza também recursos na Internet, como vídeos e uma cartilha com as principais mudanças ortográficas.
Em Timor-Leste, três escolas do ensino básico vão ter aulas nas línguas maternas locais, em distritos onde não são falados tanto o português como o tétum, línguas oficiais do território. O ministro da Educação João Câncio assegura que este projeto-piloto não vai resultar na adoção das línguas locais como línguas de instrução, mas apenas como instrumentos de introdução do conhecimento. Trata-se uma estratégia pedagógica para superar as dificuldades dos alunos que entram na escola, para quem o português é uma língua estrangeira.
Em reunião extraordinária (em Luanda, a 30 de março), os ministros da Educação da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) recomendaram a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 nos países-membros, no âmbito do acordo geral de cooperação relativo à defesa e promoção da língua portuguesa. A proposta de ajustamento do Acordo Ortográfico, a criação de formas de cooperação entre a língua portuguesa e as demais línguas naturais (em convívio) e de projetos para a elaboração dos vocabulários ortográficos nacionais foram, também, objeto desta VII reunião dos ministros da Educação dos oito países lusófonos.
Nocturno Indiano, Afirma Pereira, A Cabeça Perdida de Damasceno Monteiro, Requiem e Os Últimos Três Dias de Fernando Pessoa foram apenas algumas das obras de Antonio Tabucchi, escritor italiano, que muito fez pela língua portuguesa: professor de língua portuguesa na Universidade de Siena, tradutor e crítico da obra de Fernando Pessoa, enfim, um italiano que «sonhava frequentemente em português». Na semana em que se lamenta a sua perda, nada melhor do que ouvi-lo nesta entrevista a João Almeida, na Antena 2. Uma deliciosa conversa com comparações metafóricas entre o português e o italiano, críticas ao jornalismo bacoco, e rejeição do normativismo na língua, esse «colete de forças».
Escreveu prosa, poesia e teatro. O nome Millôr Fernandes figurará entre os maiores da língua portuguesa. Obras como 100 Fábulas Fabulosas ou Lições de Um Ignorante fazem as delícias de leitores de qualquer geração. 30 Anos de Mim Mesmo traça uma viagem desde o início da sua carreira (com 19 anos) até à celebridade. O autorretrato vem confirmar que a genialidade é sempre humilde:
«Sou apenas um jornalista que trabalha para ganhar a vida. Sou melhor do que a maioria, o que não é difícil, e inferior a muitos, muitos mesmo. Não há dentro de mim nenhum sentimento de superioridade quanto aos primeiros nem de competição quanto aos outros. Minha vida não passa pela competição. Sou um dos inventores do frescobol – o único esporte com espírito esportivo. Até hoje ninguém inventou nesse jogo aposta ou ganhadores. Em volta de mim, amados amigos, também ninguém ganha ou perde. Vive.» (in O Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr).
Depois do estudo do ISCTE, coordenado por José Paulo Esperança, que concluiu que a língua portuguesa representa 17% do PIB nacional, o estudo da autoria da Espírito Santo Research – Research Editoria, recentemente divulgado, apurou o número de 4,6 do PIB mundial. Nenhum estudo explica, porém, a motivação para a falta de investimento, coordenação e trabalho em ampla escala no ensino de português língua estrangeira.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
Se pretende receber notificações de cada vez que um conteúdo do Ciberdúvidas é atualizado, subscreva as notificações clicando no botão Subscrever notificações