1. As sociedades mudam, e, com elas, também as línguas nas suas diferentes dimensões – incluindo essa forma mais estável de funcionamento linguístico que é a norma-padrão. Esta, apesar de idealizada como um corpo de regras e práticas de comunicação resistente ao tempo, revela, afinal, oscilações, só notadas quando a História põe tudo em perspetiva. É certamente o caso de dois usos linguísticos, em foco na presente atualização do consultório: trata-se do (ainda) pouco aconselhável «ter que», em lugar de «ter de», para exprimir obrigação, e da forma «um certo», que gramáticos mais ciosos da expressão concisa já deram como pleonástica e viciosa. Sobre a discussão em torno de norma, variação e correção linguísticas, sugerimos a leitura dos seguintes artigos: "Os conceitos de língua materna e língua padrão", "Os conceitos coserianos de sistema e norma", "Variação linguística e desvio de linguagem", "O correto e o incorreto: entre as duas balizas", "Norma e estabilidade", "A norma culta e os profissionais", "O direito à diferença na língua portuguesa".
2. Ainda no consultório, três questões que requerem um parecer à luz da norma contemporânea: no domínio da bioquímica, diz-se e escreve-se "catalase" e "catálase" – o que é mais correto? Poderemos na mesma frase juntar o presente ao pretérito perfeito (p. ex. «chegámos tarde, mas entramos com tudo»)? E «chover chuviscos» – não será isto um erro por pleonasmo?
3. Fazendo-se a vida no presente, compreende-se que as convenções linguísticas se revelem prementes. Ao encontro do uso correto do português no dia a dia, assinalamos o lançamento de um novo livro da nossa consultora Sandra Duarte Tavares, com o título Falar Bem, Escrever Melhor (Lisboa, A Esfera dos Livros, 2016). Com esta obra – lê-se na sinopse de apresentação –, pretende-se ajudar «[...] todas as pessoas que desejam falar e escrever com mais clareza, rigor e impacto, aperfeiçoando as suas competências linguísticas e comunicativas», em especial «[...] todos os que acreditam que essas competências são, na sociedade de hoje, a chave para se alcançar mais credibilidade, aceitação e poder».