Língua materna é a que um ser humano aprende na infância até aos 5/6 anos. David Crystal (A Dictionary of Linguistics and Phonetics) regista o termo “native speaker”, que é traduzido em português por «falante nativo», para designar o indivíduo que, tendo em criança adquirido uma língua particular (p. ex., o português), possui as intuições e os juízos mais seguros sobre o funcionamento da mesma. É por isso que, explica Crystal, a investigação linguística considera como mais fiável a informação obtida junto de falantes nativos. Contudo, há pessoas que conseguem falar uma segunda língua como se fosse a materna, e outras que aprenderam duas ou mais línguas na primeira infância. Neste último caso, fala-se normalmente de bilinguismo.
Língua-padrão é a maneira de falar e escrever que é considerada correcta por uma dada comunidade. Historicamente, é uma modalidade linguística que, servindo para controlar a variação dialectal inerente aos sistemas linguísticos, se tornou um meio de comunicação unificado nos ‘media’ e no ensino a estrangeiros (ver Crystal, op. cit.).
A definição de língua-padrão conduz normalmente à discussão do que é a norma de uma língua. Sobre este tema controverso, socorrer-me-ei das reflexões de duas gramáticas de referência. Assim, para Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 1984, pág. 4), a língua-padrão corresponde a «[…] uma entre as muitas variedades de um idioma, [mas] é sempre a mais prestigiosa, porque actua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade[…]». Estes autores apoiam-se depois nas reflexões do linguista Eugénio Coseriu, concordando que, se uma língua pode abarcar vários sistemas, pode também abranger várias normas «[…] que representam modelos, escolhas que se consagraram dentro das possibilidades de realizações de um sistema linguístico[…]».
No âmbito desta discussão, Evanildo Bechara (Moderna Gramática da Língua Portuguesa, 2003, pág. 37) começa por definir «língua histórica» como um «[…] produto cultural histórico, constituída como unidade ideal, reconhecida pelos falantes nativos ou por falantes de outras línguas, e praticada por todas as comunidades integrantes desse domínio lingüístico». O termo língua-padrão não é usado por este gramático, que recorre a norma, a língua comum língua exemplar. Deste modo, para Bechara, norma é tudo o «[…] que é tradicional, comum e constante, ou, em outras palavras, tudo o que se diz “assim, e não de outra maneira”». Língua comum é uma «[…] unidade lingüística ideal – que nem sempre cala o prestígio de outros dialetos nem afoga localismos lingüístcos […]». Finalmente, também baseado em Eugénio Coseriu, Bechara refere-se a língua exemplar como «[…] um tipo de outra língua comum, mais disciplinada, normatizada idealmente, mediante a eleição de usos fonético-fonológicos, gramaticais e léxicos como padrões exemplares a toda a comunidade e a toda a nação, a serem praticados em determinadas situações sociais, culturais e administrativas do intercâmbio superior […]». É assim que este gramático fala de uma «exemplaridade do português do Brasil ao lado de uma exemplaridade do português de Portugal», o que me parece significar que ele se refere a dois padrões ou duas normas diferentes no extenso domínio da língua portuguesa.
Em relação a referências bibliográficas, recomendo para já a leitura das gramáticas que atrás referi na abordagem do tema da língua-padrão. Sobre a aquisição da língua materna, aconselho a consulta da resposta de Celeste Ramilo, intitulada "A língua portuguesa no pré-escolar" (ver Correio), e sugiro duas obras:
Inês Sim-Sim, 1998. Desenvolvimento da Linguagem, Lisboa: Universidade Aberta.
João Costa e Ana Lúcia Santos, 2004. A Falar como os Bebés, Lisboa: Editorial Caminho.
Cf. Língua-padrão