Não me é possível falar neste espaço dos conceitos utilizados pelo linguista Eugénio Coseriu, porque isso requereria, pelo menos, uma monografia inteira sobre o assunto. O que vou dizer limita-se aos conceitos que o consulente seleccionou e à bibliografia que posso recomendar.
Eugénio Coseriu (1921-2002) levou mais longe a distinção que Saussure havia estabelecido entre “langue” e “parole”, ou seja, entre a língua, enquanto sistema abstracto, e a fala, enquanto realização concreta desse sistema. Para Coseriu, a língua pode ser vista a partir de dois níveis de abstracção:
– o sistema, que é o conjunto de possibilidades de uma língua, definindo o que pode e não pode ser linguisticamente realizado;
– e a norma, conjunto de imposições sociais e culturais que favorecem o uso de determinadas possibilidades do sistema em detrimento de outras.
O exemplo que vou dar para se entender melhor tal distinção é do próprio Coseriu e tem por base um aspecto da língua espanhola que é idêntico em português. Sabemos que o feminino de actor é actriz, e o de director, directora. Porque não se diz “actora” e “directriz”? Por imposição da norma, que exclui palavras formadas dentro das regras do sistema e que poderiam constituir uma alternativa às formas que são aceites. Dentro desta perspectiva, a norma é um subconjunto das realizações que o sistema possibilita. No entanto, a variação da fala pode determinar inovações na norma, as quais, por sua vez, darão origem a mudanças no próprio sistema (ver Peter Mathews, A Short History of Structural Linguistics, Cambridge: Cambridge University Press, págs. 63-66).
Sobre a aplicação destes conceitos, sugiro a leitura de Francisco Dubert García, “¿Norma galega, sistema galego-portugués? Aplicación dos termos de Coseriu ó ‘galego’ e ó ‘portugués’” (artigo em linha, consultado em 12/12/05). Recomendo ainda Evanildo Bechara, Moderna Gramática da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, págs. 37-44.