1. À publicação de História Sociopolítica da Língua Portuguesa, de Carlos Alberto Faraco, no presente ano, já foi feita a devida referência aqui na Abertura e na Montra de Livros. Trata-se de um livro fundamental para pôr em perspetiva o debate à volta da história administrativa e política da língua portuguesa; tem, por isso, encontrado o eco que merece entre especialistas, como é o caso do linguista Marcos Bagno (Universidade de Brasília), que lhe dedicou recentemente uma resenha disponível na revista brasileira Cadernos de Estudos Linguísticos (vol. 58, n.º 1). Deste artigo, o relevo vai para as palavras finais: «A obra [...] é escrita num estilo objetivo, elegante sem afetações, de leitura acessível a não iniciados no tema, e favorece uma reflexão serena porém crítica das diversas tradições discursivas que têm sido gestadas e geridas em torno da língua portuguesa e de sua história. Contribui, primordialmente, para que se interprete essa história de um modo realista, sem arroubos nacionalistas nem saudosismos de glórias passadas. É leitura sem dúvida proveitosa não só para linguistas mas também para historiadores, antropólogos, sociólogos e todas as pessoas interessadas em conhecer mais e melhor este elemento importantíssimo na formação da sociedade brasileira que é a língua hoje majoritária da população.» E acrescentamos nós: «elemento importantíssimo na formação da sociedade brasileira» e de todos os países e comunidades que lhe têm dado uso, prestígio e estatuto.
2. O brasileiro Raduan Nassar (Pindorama, 1935) ganhou o Prémio Camões de 2016. O galardão, o mais importante que se destina a autores de língua portuguesa, foi atribuído neste dia ao escritor por um júri que decidiu unanimemente distinguir «o [seu] uso rigoroso de uma linguagem cuja plasticidade se imprime em diferentes registos discursivos verificáveis numa obra que privilegia a densidade acima da extensão» (ler notícia do Público de 30/05/2016 e, ainda, no blogue do IILP e na revista África 21). Raduan Nassar tem uma obra escassa – dois romances, Lavoura Arcaica (1975) e Um Copo de Cólera (1978), a que se junta o livro de contos Menina a Caminho (1994) –, mas a crítica põe-no ao mesmo nível de grandes nomes da literatura brasileira como Guimarães Rosa ou Clarice Lispector.
3. Nas Controvérsias, um apontamento da professora Isabel Casanova retoma a discussão em torno do uso de «par e passo» – expressão tida por incorreta ou menos correta do que a latina que lhe deu origem, pari passu. Da mesma autora, mas na rubrica O Nosso Idioma, um outro texto relembra a diferença entre sigla e acrónimo.
4. Finalmente, no consultório: se um rio ou um lago têm margens, será que margem alude a água e pertence à mesma família de palavras que mar? E Saxe, em lugar de Saxónia, é forma legítima? E como surgiu o sinal §? Como se emprega nos textos jurídicos?