Não parece haver consenso quanto ao uso do plural neste caso.
A recente Gramática do Português, da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, 2013, p. 1013), recomenda que os apelidos fiquem no singular quando se referem «a família como um grupo»:
«[Nos] contextos de pluralização, é de regra o apelido ocorrer no singular, sobretudo se é composto de mais de um nome (cf. [...] os Cerqueira da Mota, os Saraiva Lobo, os Paiva Raposo, os Melo, os Brito, os Bragança), embora possa ocorrer também no plural, quando é composto por um único nome [...] (cf. [...] os Silvas, os Costas, os Coelhos); o uso plural é, no entanto, menos frequente e considerado não normativo [...].»
Refira-se, contudo, que, ao contrário do afirmado nesta citação, já se considerou que, do ponto de vista normativo, era correto empregar os apelidos no plural (pelo menos, os constituídos por um único nome). Por exemplo, Vasco Botelho de Amaral, no Grande Dicionário de Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português (2012 [1958], vol. I, pág. 189), observa o seguinte:
«[...] [E]m nossa linguagem cai em galicismo quem seguir semelhante prática [a do singular em contexto plural], escrevendo, v. g.: «As irmãs Primavera, os irmãos Montenegro, etc. Correcção: Primaveras, Montenegros, etc.»
O mesmo preceito é enunciado por Evanildo Bechara, na Moderna Gramática da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 125):
«Os nomes próprios usados no plural [...] fazem o plural obedecendo às normas dos nomes comuns, e a língua-padrão recomenda se ponham no plural, e não no singular:
"O fidalgo dos Vitos Alarcões tratou da cabeça na cama, uns quinze dias" [CBr. 6, 144]
"8...) seria um garfo meritório do tronco dos Parmas d´Eça, ao qual ele, Rui de Nelas, se glorificava de ser estranho?" [CBr.6, 171]
Todavia não é raro o uso do singular na língua literária:
"Os brasileiros do sul, os Correia de Sá, perdiam muito do encanto dessas obras (...)" [GA apud TS, 105]»1
Observe-se, portanto, que Bechara aceita o plural de apelidos, muito embora ressalve que os compostos podem ocorrer no singular. O que este autor não diz é que todos os apelidos se mantêm no singular.
Mas acrescente-se que Camilo Castelo Branco emprega efetivamente o plural de apelidos, por exemplo, quando se refere à família Távora:
«As oito tocheiras de prata com brasões deram margem a que o ourives explicasse que as armas eram dos Távoras e contasse o funesto destino destes fidalgos» (Camilo Castelo Branco, A Viúva do Enforcado, in Corpus do Português).
E é de lembrar também que um dos títulos de Eça de Queirós é justamente Os Maias, com um apelido no plural.
Finalmente, numa obra mais recente, o Dicionário das Famílias Portuguesas (Lisboa, Quetzal, 2010), de D. Luiz de Lencastre e Távora, os apelidos simples ocorrem sempre no plural quando se referem ao conjunto dos membros de uma família. Mas aparecem no singular quando são aposto da palavra família («família Távora», pág. 10).
Tudo o que aqui se diz parece aplicar-se às dinastias conhecidas pelos apelidos, embora, reconheça-se, não de maneira sistemática: «os Habsburgos»/«os Habsburgo» (cf. Corpus do Português). Quanto aos títulos, tendo estes em geral um topónimo por complemento, não têm sentido que o apresentem no plural, uma vez que se trata de uma entidade singular (o da localidade assim chamada): «o duque de Bragança»/«os duques de Bragança»; «o duque de Palmela»/«os duques de Palmela».
Em síntese, não é obrigatório manter no singular apelidos ou nomes de dinastias. Pelo contrário, a tradição normativa até recomenda o plural nestes casos, pelo menos, nos apelidos formados por um único nome.
1 As abreviaturas referem-se aos seguintes textos literários: CBr. 6, 144 = Camilo Castelo Branco, O Bem e o Mal, ed. M. Casassanta, Rio de Janeiro, Org. Simões, 1955, p. 144; CBr.6, 171 = idem, p. 171. As abreviaturas GA e TS não estão identificadas na fonte consultada.