No Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses (Lisboa, Texto Editores, 2007), andar surge como verbo principal, podendo ser transitivo direto («Ele andou 100 metros») ou transitivo indireto, com complemento oblíquo: «Ele anda a cavalo»; «A Terra anda à volta do Sol»; «Eles andam na apanha da azeitona.» Enquanto copulativo, o verbo, se for seguido das preposições com ou em, ou de adjetivo, é apresentado no mesmo dicionário como tendo valor próximo de estar: «Vê-se mesmo que andas com saudades da família»; «A casa anda em obras.» Também lhe é associado, enquanto copulativo, o valor próximo de usar, se as preposições subsequentes forem com ou de: «Os estagiários andam sempre com calças de fazenda»; «A sogra não gosta de andar de saltos altos.»
O caso apresentado não tem, como bem sugere a consulente, uma análise inequívoca. Há três possibilidades de análise:
a) considerar «andar às voltas» como um todo, porque é uma expressão idiomática;
b) partir do princípio de que andar é um verbo transitivo indireto, sendo «às voltas» um complemento oblíquo; com esta interpretação a expressão pode ter um sentido literal: «Andei meia hora às voltas antes de estacionar o carro»;
c) ou, aceitando que «anda às voltas» é equivalente a «anda perdida» ou «está à procura de alguma coisa», diremos que «às voltas» é um predicativo.
Sobre esta última análise, observe-se que o verbo andar, enquanto copulativo, é apresentado na Gramática do Português, da Fundação Calouste Gulbenkian, como veiculando informação relativa a um estado episódico (pp. 1305 e 1312), o que, creio, acontece na expressão «andar às voltas», se lhe atribuirmos o sentido de «andar perdida». Por outro lado, analisando o que se diz no dicionário citado acima, a expressão «andar às voltas», com o sentido que lhe estamos a atribuir aqui, tem valor de estar: «Ela esteve todo o dia às voltas com o assunto.»
A possibilidade de optar por uma das três possibilidades que apresentamos advirá em grande parte do contexto em que a expressão se insira…