As palavras referentes a cores podem ser simples ou compostas e podem pertencer à classe dos substantivos ou à dos adjetivos.
«O céu azul» (o adjetivo azul concorda em género e em número com o substantivo).
«O azul do céu» (o adjetivo azul é substantivado, antecedido por determinante artigo definido).
Quanto aos compostos também referentes a cores, formados por dois substantivos ou por um substantivo associado a um adjetivo, há que ter em mente os seguintes critérios:
a) quando a palavra composta desempenha a função de adjetivo, se o último elemento é um adjetivo, concorda em género e em número com o substantivo (camisa azul-clara/camisas azul-claras). Se, pelo contrário, o último elemento é um substantivo, como referem Cunha e Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, 3.ª ed., 1986, p. 252), o último elemento é invariável (ou seja, canário amarelo-ouro/canários amarelo-ouro);
b) quando a forma composta tem a função de substantivo, ambos os elementos têm a forma singular (o verde-oliva) ou plural (os verdes-olivas).
Assim sendo, importa distinguir, nos exemplos que apresenta, se amarelo-canário e verde-garrafa desempenham a função de adjetivo ou se, pelo contrário, exercem a função de substantivo. Tal distinção influirá na correta flexão em número. Assim:
«O amarelo-canário»/«os amarelos-canários» (substantivo).
«O verde-garrafa»/«os verdes-garrafas» (substantivo).
«Casaco amarelo-canário»/«casacos amarelo-canário» (adjetivo).
«Saia verde-garrafa»/«saias verde-garrafa» (adjetivo).
* Quanto à grafia, se o composto for formado por dois substantivos ou por um substantivo + adjetivo, ambos os elementos são ligados por hífen (amarelo-canário e verde-garrafa; amarelo-claro, verde-escuro). Sobre a grafia de compostos referentes a cores, formados por uma locução que inclui um elemento de ligação (de, da, do), existe, quanto ao uso de hífen, alguma controvérsia que já remonta ao Acordo Ortográfico de 1945, quando este distingue entre compostos cujos elementos «mantida a noção da composição, forma[m] um sentido único ou uma aderência de sentidos» e as locuções ou «conjuntos vocabulares em que os respectivos componentes, apesar da associação que formam, têm os seus sentidos individualizados» (Base XXVIII). A maioria dos vocabulários ortográficos que aplicam o Acordo Ortográfico de 1990 (AO 90) mostra a supressão do hífen em certos casos em que, apesar das dúvidas quanto a formarem um composto ou uma locução no quadro do AO 45, ocorriam hifenizados em certos dicionários (cf. Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, 2003; Artur Bivar, Dicionário Geral e Analógico da Língua Portuguesa, 1948): azul-de-metileno ou azul-de-metilene > «azul de metileno»; não obstante, mantém-se cor-de-rosa, com hífen, tal como se regista no próprio texto do AO 90. Recordemos que na base XV do AO 90 ("Do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares") se estipula que «[nas] locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas [por exemplo, cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho], pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso», a saber: água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa. Contudo, o Acordo, na base XV, alínea 3, postula o emprego do hífen em formas compostas relativas a espécies botânicas e zoológicas nas quais se verifica a presença de um elemento de ligação, como é o caso da preposição de. Refira-se, entretanto, o caso curioso de azul-da-prússia (Dicionário Houaiss, 2001), que, a suprimirem-se os hífenes, passa a «azul da Prússia», em que o último elemento do antigo composto, na origem um nome próprio, recupera a maiúscula inicial. Note-se, todavia, que a grafia de azul-da-prússia/«azul da Prússia» parece não ter estabilizado. Na sua versão impressa, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Porto Editora, 2009), dirigido por João Malaca Casteleiro, regista a forma azul-da-prússia (plural azuis-da-prússia); no entanto, o mesmo vocabulário ortográfico consigna, na sua versão eletrónica, a forma azul da Prússia, sem hífen e com maiúscula inicial no último elemento. O VOP regista igualmente azul-da-prússia/azuis-da-prússia. Já o Vocabulário Atualizado da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa (Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2012), não regista nenhuma forma deste adjetivo; porém encontramos «azul de mitileno», «cor de laranja» e «cor de vinho». Tão-pouco no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras encontramos a forma azul-da-prússia, hifenizada ou sem hífen.