Como sabemos, «a melodia do verso exige que as palavras venham ligadas umas às outras mais estreitamente do que na prosa» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 13.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 1997, p. 667), o que implica que a fronteira das sílabas se faça pela «leitura, numa só emissão de voz, da vogal final de uma palavra com a vogal inicial da palavra seguinte», contraindo numa sílaba uma ou mais vogais em contacto.
Portanto, e respondendo à sua questão, no verso que nos apresenta, a divisão métrica pressupõe a junção do último o de «Recolho» à vogal inicial do pronome as (não esquecer na escrita o hífen) e a do último o de todo ao artigo o, na sequência «todo o lado», do que resulta o seguinte (junções indicadas a negrito):
«Re / co / lho-as / à / noi / te / por / to / do o / la (do)
A contracção na mesma sílaba de tais encontros intervocálicos ocorre, no primeiro caso («recolho-as»), através de sinalefa, em que «a primeira vogal perde a sua autonomia silábica e se torna uma semivogal, que passa a formar ditongo com a vogal seguinte» (idem, p. 667), do que resultaria a seguinte pronúncia: «Re / co / lho-as» = "recolhuas". No segundo caso — «to/do o /la (do)» —, verifica-se uma crase, isto é, duas vogais iguais fundem-se numa só (cf. idem, p. 668): "todulado".