A escansão mais correta é a seguinte:
Que/ri/a/nes/te/po/e/ma a/cor/dos/teu/s o/lhos
e/que/ri/a em/ca/da/ver/so o/som/da/tu/a/voz
Observe-se que a sequência em questão é constituída não por um, mas, sim, por dois versos, que são os primeiros do poema Presente, o qual faz parte do livro O Estado dos Campos (2007), da autoria do poeta português Nuno Júdice.
Quanto à escansão, é de notar que a divisão silábica de versos é diferente da divisão silábica convencional. Aconselha a regra geral a contar as sílabas até à última sílaba tónica de cada verso. Por isso, no primeiro verso do par em questão, a contagem é feita até à sílaba tónica de olhos e, no segundo verso, abrange o monossílabo voz, que coincide com uma sílaba tónica. Os ditongos têm valor de uma só sílaba poética («teus»), e duas ou mais vogais átonas e, por vezes, tónicas podem juntar-se entre duas palavras, formando uma única sílaba, como acontece com os encontros vocálicos das sequências «… poema a cor…» (primeiro verso) e «… queria em cada…».
Estas regras não são rigorosas, mas genéricas. Há algumas liberdades poéticas, como:
– a elisão de um som: «.. queria em…» > «queri’ em…» (nos versos em questão);
– a fusão de dois sons (sinalefa): «… poema a cor…» > «… poem[à] cor…» (idem);
– e até, por vezes, se dá a separação dos sons do ditongo (o que não é muito comum, prevalecendo a regra geral): va-i-da-de, em vez de vai-da-de (cf. E. Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira/Editora Lucerna, 2009, p. 61).
Sobre este assunto, poder-se-á consultar, por exemplo: Bechara, Evanildo. (2009). Moderna Gramática Portuguesa. Editora Nova Fronteira/Editora Lucerna, pp. 631/632; Carmo, Mário, Dias, M. Carlos. (1978). Introdução ao Estudo Literário. Lisboa. Didática Editora, p. 185; Cunha, Celso e Cintra, L. F. Lindley. (1984). Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa. Edições João Sá da Costa, pp. 672/673.