Se é complemento, faz, com certeza, parte de uma unidade maior à qual se liga! Em «Ele não quer a venda da casa», o objecto directo é «a venda da casa», sendo «da casa» o complemento nominal do nome «venda», que, como acontece com muitos dos nomes que se constroem com complemento nominal, é um nome deverbal. Com efeito, «venda da casa» é próximo da expressão «vender a casa», em que o nome «casa» ocorre como objecto do verbo vender. Poder-se-ia dizer que esta é uma forma fácil de identificar o complemento nominal. No entanto, ainda que eficaz, não abrange todas as situações em que ocorrem, ou podem ocorrer, complementos nominais.
No caso da frase «Aspirina é ineficaz contra ataque cardíaco», que, neste lado do Atlântico, teria preferencialmente a forma «A aspirina é ineficaz contra o ataque cardíaco», admitindo que a expressão «contra ataque cardíaco» seja complemento e não adjunto, nada obsta a que se associe, também, ao adjectivo cujo sentido completa. A razão para não integrar essa expressão no predicativo prende-se, a meu ver, com a sua classificação. Parece-me que, ao não fazer essa associação, se está a atribuir à expressão o valor de adjunto, e não de complemento.
Relativamente à existência de testes com pronomes para identificar os complementos nominais, esse tipo de teste é possível, mas apenas em alguns grupos de nomes. Com efeito, podemos agrupar alguns nomes que costumam construir-se com complemento pelas suas características: temos assim, por exemplo, nomes de parentesco, como «o pai do João»; nomes icónicos, como «o quadro de Picasso»; nomes modais, como «a possibilidade de…»; nomes de actividades mentais, como «a hipótese de…», e nomes deverbais, como o caso do que ocorre no primeiro exemplo que apresenta. Nos dois primeiros grupos é possível aplicar o teste da pronominalização: «o pai do João» — «o pai dele»; «o quadro de Picasso» — «o quadro dele».
Nos casos em que o complemento nominal é uma frase, poderá ser substituído pelo pronome isso.
No caso dos nomes deverbais, nem sempre me parece eficaz o teste com pronome. Não sei se aceitaria muito bem «?a venda disso», ou «?a venda dela» a substituir «a venda da casa».
No caso em que o complemento nominal tem como núcleo um adjectivo, como no segundo exemplo que apresenta — e sempre assumindo que pode ser considerado complemento — creio poder dizer, sem generalizar, que a preposição que caracteriza a regência do adjectivo poderá ser seguida do pronome demonstrativo isso. O mesmo acontece também com os grupos de nomes modais e designadores de actividades mentais. No entanto, tenho dúvidas sobre a eficácia generalizada deste teste.