Gostaria de ressalvar, antes de mais, que o que vou dizer a seguir poderá ser pobre, enquanto interpretação, porque condicionada pela sensibilidade de falante de português europeu. Com efeito, no que respeita à formação de novas palavras Portugal e o Brasil nem sempre usam a língua da mesma forma, havendo, deste lado do Atlântico, uma tendência para a perífrase, contrariamente ao que acontece no Brasil.
Segundo se pode ler no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o sufixo -ismo, de origem grega, produz nomes que veiculam um conjunto variado de sentidos, desde movimentos políticos ou religiosos a meios profissionais, como o automobilismo. A este sufixo associam-se, por vezes em cascata, dois outros: -ista, para criar nomes, como automobilista; -ico, para, a partir do nome, formar adjectivos, como automobilístico.
Como, em princípio, a nova palavra terá algo a ver, em termos de sentido, com a palavra de que deriva, sinto pouco adequada – e faço apelo para o que disse acima – a utilização do adjectivo automobilístico para caracterizar o nome tinta, pois associo-o a actividades humanas, como, por exemplo a indústria automobilística. Eu diria, fazendo uso de uma perífrase, “tinta para automóveis”.
O sufixo -ivo, por sua vez serve para formar adjectivos a partir de verbos, como em desprezar – desprezivo, veiculando um sentido global de «que (se)+mais verbo»; tem duas variantes: -tivo. Como em chamar – chamativo e -sivo em concluir – conclusivo.
No entanto, Houaiss contempla o adjectivo automotivo com o sentido de «relativo a automóveis» e considera que se trata de uma palavra composta de auto+motivo. Embora em motivo possamos encontrar o prefixo -ivo, ou -tivo associado ao verbo latino ‘movere’, não me parece que esse sentido de «mover» se mantenha em automotivo, nem o contexto em que a palavra é apresentada por Houaiss, oriente nesse sentido: «O acordo automotivo reduziu as alíquotas dos impostos de carros populares».