A ideia que subjaz à nossa ortografia é a de que os ditongos decrescentes (aqueles em que a semivogal /i/ ou /u/ ocorre à direita da vogal) são os únicos verdadeiros ditongos do Português e que os ditongos crescentes (em que a semivogal antecede a vogal) não são verdadeiros ditongos. Esta ideia parte da constatação de que, muitas vezes, as palavras em que ocorrem ditongos crescentes também podem ser realizadas com duas vogais em hiato numa pronúncia mais lenta. Então, uma sequência gráfica do tipo «ai» representa por regra um ditongo decrescente, enquanto uma sequência do tipo «ia» representa em princípio duas vogais em hiato. A principal função dos acentos é a de assinalar a sílaba tónica, mas também são usados para marcar os casos em que as sequências acima citadas não representam aquilo que por regra representam, desde que tal não implique a acentuação gráfica de sílabas átonas («reunir» não leva acento para partir o ditongo porque os acentos só podem ser escritos sobre vogais tónicas).
Isto significa que, com efeito, uma palavra como «ia» não se escreve com acento no i porque esta vogal não forma um hiato com uma vogal precedente. Numa palavra como «saiu», o i também não leva acento apesar de estar em hiato com uma vogal que o antecede porque, para evitar o uso dos acentos gráficos, a ortografia da língua portuguesa também se serve do facto/fato de em alguns contextos as letras u e o não poderem representar sons diferentes (uma vez que há vogais que não podem ocorrer em certos contextos), pelo que podem ser utilizadas para veicular outras diferenças (cf. «saio»). Também não se utilizam acentos para partir ditongos decrescentes quando estes precedem as letras l, m, n, r, z, e estas não iniciam uma sílaba nova.
As regras para o uso dos acentos gráficos em Português estão repletas de pormenores. Isto deve-se ao facto/fato de a nossa ortografia ter como objectivo reduzir ao máximo a utilização dos diacríticos, para isso evitando usá-los nos padrões mais frequentes e reservando-os apenas para os casos que ocorrem com menor frequência. A excepção do dígrafo nh que o consulente refere é um exemplo disto e deve-se ao facto/fato de que em Português não se encontram ditongos decrescentes antes desta consoante (então, p.ex., «rainha» não precisa de levar acento porque /ráinha/ seria impossível).