DÚVIDAS

Vírgula com orações/expressões de gerúndio

Numa oração, antes de um verbo no gerúndio, pode/deve ser colocada uma vírgula, ou este, por si só, serve para o efeito e permite a ausência da mesma?

Resposta

Não se pode dizer que haja regras claras sobre a vírgula nesse contexto; antes se configuram tendências. Assim, o uso da vírgula com gerúndio depende da construção em que este se encontrar.

1. Se o gerúndio fizer parte de uma oração reduzida adverbial, põe-se geralmente uma vírgula para marcar a fronteira com a oração principal:

(i)  «Dizendo isto, todos se levantaram.»

(ii) «O professor levantou-se, apoiando-se na bengala.»

Em (i) e (ii), o gerúndio é o núcleo de orações equivalentes a subordinadas adverbiais temporais como «quando disse isto» e «ao mesmo tempo que se apoiou na bengala» (ver Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, págs. 610/611). Note-se que em (i) a oração precede a oração principal e tem sujeito próprio; neste caso, a vírgula torna-se obrigatória (Sá Nogueira, Guia Alfabético de Pontuação, Lisboa, Clássica Editora, 2.ª edição, pág. 38).

2. Como elemento circunstancial ou adjunto adverbial de modo de uma oração (cf. Sá Nogueira, op.cit.; Cunha e Cintra, op. cit, pág. 488), a construção de gerúndio pode não exigir vírgula:

(iv) «Vivia sorrindo.»

(v) «Passou por mim parecendo distraído»/«Passou por mim, parecendo distraído.»

(vi) «Chorou soluçando sobre a cabeça do cão» (Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, pág. 488).

(vii) «Arrastou-se penosamente, gatinhando na areia» (ibidem).

Em frases como (iv)-(vii), Sá Nogueira considera que o elemento circunstancial não pede vírgula, enquanto Cunha e Cintra apresentam exemplos com e sem vírgula. Cabe ainda sublinhar que estas construções de gerúndio se confundem com os casos de (i) e (ii), já que também pode ser-lhes atribuído o estatuto de orações, sobretudo se parafrasearmos (v) e (vii) respectivamente como «passou por mim e parecia distraído» e «arrastou-se penosamente ao mesmo tempo que gatinhava na areia». Sendo assim, parece que a vírgula dependerá aqui da necessidade de dar relevo à construção de gerúndio, como em (v), ou de a separar de outro constituinte que tem também função adverbial, como «penosamente», em (vii).

3. Nunca se põe vírgula, se o gerúndio for parte de uma locução verbal (auxiliar + verbo principal):

(viii) «Estava arrastando os pés.»

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