Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo, pág.482) falam de facto em tendências: «[...] parece-nos mais acertado falar não de regras, mas de tendências que se observam no emprego de uma e de outra forma do INFINITIVO.»
Contudo, mais adiante, quando abordam o infinitivo flexionado, estabelecem que este se usa quando o sujeito está claramente expresso (pág. 485). O exemplo que os autores dão é de Vergílio Ferreira:
(1) Mas o curioso é tu não perceberes que não houve nunca "ilusão" alguma.
Esta frase torna-se agramatical se utilizarmos o infinitivo não flexionado:
(2) *Mas o curioso é tu não perceber que não houve nunca "ilusão" alguma.
Penso que neste caso há erro gramatical.
Nos restantes exemplos dados pelos gramáticos (pág. 486), o uso do infinitivo flexionado apenas tem relevância contextual, na medida em que se quer precisar o sujeito da acção (não transcrevo todos os exemplos):
(3) Acho melhor não fazeres questão.
(4) Ouvi dizerem que Maria Jeroma [...] ganhara o sertão.
(5) [...] tomar dois temas e opô-los, fazê-los lutarem, embolarem, ferirem-se e estraçalharem-se.
Em (3) e (4), indica-se que o sujeito é respectivamente um interlocutor ("tu") ou um conjunto de indivíduos não identificados exteriores ao discurso ("eles"). Em (5), apesar de uma preferência pelo infinitivo flexionado depois de verbos causativos (deixar, mandar, fazer), é também possível usar a forma não flexionada.