Diz-nos F. V. Peixoto da Fonseca: «Embora a expressão tenha valor de plural, está escrita no singular, e por isso o predicado não pode senão ficar também neste número: (Um) grande número de pessoas, crianças, sabe, conhece, comparece, etc.»
Poder-se-ia, no entanto, objectar que no caso de «a maioria de...» a concordância tanto se faz com o núcleo da expressão, ou seja, «maioria», como com a expressão que nela está encaixada (por exemplo, «as pessoas» em «a maioria das pessoas»). Isto explica que «a maioria das pessoas compareceu» e «a maioria das pessoas compareceram» sejam ambas frases correctas.
Mas sucede que o comportamento destas expressões de quantificação não é homogéneo. João Andrade Peres e Telmo Móia, em Áreas Críticas da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 1995, pág. 470/471), distinguem três subclasses:
1 — Quantificadores de contagem — «servem para exprimir quantidades absolutas, como no caso de milhar, milhão e dezena, quer quantidades relativas, como no caso de metade, terço, maioria e parte».
2 — Quantificadores de medição — p. ex., parte (de edifício), troço (de estrada); «estas expressões não são usadas para contar objectos, antes servindo para identificar porções de objectos».
3 — Nomes de referência dependente — p. ex., grupo, conjunto; «expressões que por si só não referem objectos, mas que, em combinação com nomes — como em grupo de estudantes ou conjunto de quadros — permitem referir colecções de objectos, sem as quantificarem.»
Os autores em apreço observam que a variação da concordância ocorre apenas na subclasse 1; nas subclasse 2 e 3 o verbo concorda apenas com o núcleo de toda a expressão quantificada; p. ex. (o asterisco indica agramaticalidade):
(i) «Uma parte do castelo foi destruída/*foi destruído.»
(ii) «Um grupo de habitantes votou contra/*votaram contra.»
Em (i), a voz passiva de destruir evidencia a concordância com «parte», pelo que é incorrecto o uso do particípio passado no masculino; em (ii), a frase é gramatical, se o verbo estiver no singular, a concordar com a palavra «grupo».
Voltando a número, apesar de esta palavra remeter para dezena, milhar ou milhão, isto é, para quantificadores de contagem, o seu significado não corresponde a uma quantificação precisa (absoluta ou relativa) nem se refere à porção de um objecto. Sendo assim, será de incluir número na mesma classe que grupo e conjunto. Recomenda-se, pois, que a concordância com as expressões de quantificação que incluem a palavra número («grande/pequeno/reduzido número de...») seja feita com o núcleo «número», independentemente das expressões nominais que as completarem; por isso, é preferível «um grande número de pessoas compareceu» a «um grande número de pessoas compareceram».