Antes de se entrar propriamente na classificação das orações, importa referir que as mesmas pertencem a um texto literário que, pelo facto de usufrir da licença poética, a pontuação e a estrutura do discurso desse parágrafo revelam precisamente a liberdade de construção. Não é, portanto, por acaso que o narrador inicia uma frase com «Porque logo a filha revelou espíritos por de mais alevantados na filha de um modesto amanuense», marcando o peso do seu valor (em relação à declaração de Amância), quando esta oração está, também, intimamente ligada à frase anterior «Os próprios pais de Amância o acharam; mas sem se atreverem a tentar qualquer pressão sobre o espírito da filha.»
Se tratasse de um texto não literário, esse parágrafo poderia estar construído desta forma: «Os próprios pais de Amância o acharam; [ou ,] mas sem se atreverem a tentar qualquer pressão sobre o espírito da filha, porque logo a filha revelou espíritos por de mais alevantados na filha de um modesto amanuense, declarando não corresponder Domingos ao seu "ideal".»
Desta forma, não haveria dúvidas sobre a divisão e classificação das orações:
1.ª - Os próprios pais de Amância o acharam - oração subordinante;
2.ª - mas sem se atreverem a tentar qualquer pressão sobre o espírito da filha - oração coordenada adversativa;
3.ª - porque logo a filha revelou espíritos por de mais alevantados na filha de um modesto amanuense - oração subordinada (adverbial) causal;
4.ª - declarando não corresponder Domingos ao seu "ideal" - oração subordinada reduzida (não finita) de gerúndio.
No entanto, encontrando-se a abrir uma frase, poder-se-á colocar a dúvida sobre a não presença de uma oração subordinante. Mas sobre esse facto, é o uso da licença poética que o justifica. Tratando-se de uma oração iniciada pela conjunção porque, a dúvida da consulente deve residir entre tratar-se um caso de uma oração subordinada (adverbial) causal ou de uma oração coordenada explicativa.
Se tivermos como referência o facto de a maioria das subordinadas adverbiais poderem vir no início da frase, ao contrário do que acontece com as coordenadas (um dos testes para identificação destas orações), não teremos dúvidas de que se trata de uma oração subordinada causal.
Para além deste aspeto, importa focar que a conjunção porque é causal se puder coocorrer com outra conjunção, o que sucede neste caso, em que se poderia introduzir a oração reduzida de gerundivo «declarando não corresponder Domingos ao seu "ideal"» por «quando», fazendo-se as respetivas alterações: «Porque logo a filha revelou espíritos por de mais alevantados na filha de um modesto amanuense, quando declarou não corresponder Domingos ao seu "ideal".»
Importa, ainda, ter em conta outro aspeto:
Porque tem valor causal, uma vez que esta frase se usa para dizer que o facto de «a filha revelar espíritos por de mais alevantados na filha de um modesto amanuense» é a causa de (ela/a filha) declarar que o Domingos não corresponde ao seu ideal, assim como de os pais não se atreverem a tentar qualquer pressão sobre o espírito da filha.