DÚVIDAS

Sobre o significado de fast-food, novamente

Não tendo qualquer interesse no ramo, escrevo por discordar da resposta de Carlos Marinheiro (23/10/2007), onde refere que o termo fast-food pode (e deve) ser substituído pelo pronto-a-comer.

Tenho para mim que não querem dizer a mesma coisa.

A fast-food refere-se a comida rápida — de feitura acelerada e, normalmente, conotada com má alimentação.

Ora bem, eu já comi feijoadas em prontos-a-comer; o que, não sendo propriamente uma excelente alimentação, não me parece englobável na categoria fast-food!

E comi-as, pois o pronto-a-comer quer dizer comida já confeccionada — é rápida no comer (no sentido de esperar — como o próprio nome indica!), e não rápida no fazer.

Caso as definições no(s) dicionário(s) da língua portuguesa sejam as mesmas, peço desculpa ao sr. Carlos Marinheiro, e passo a minha crítica para eles (os dicionários)!

Estarei assim tão errado?

Resposta

1. É verdade que fast-food costuma ser conotada com má alimentação, mas em inglês há um termo que também se encontra registado como anglicismo em dicionário de português e que designa com mais expressividade a má comida: estou a referir-me a junk food. Comparemos os verbetes de fast-food e junk-food:1

A. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

«fast-food substantivo feminino Rubrica: alimentação. 1 gênero de comida (ger. sanduíches, batatas fritas etc.), preparada e servida com rapidez; comida de lanchonetes e similares; 2 Derivação: por metonímia. estabelecimento em que tal gênero de comida é preparado e/ou servido.»

«junk food locução substantiva Rubrica: culinária. comida rica em calorias e de baixa qualidade nutritiva.»

B. Grande Dicionário da Língua Portuguesa

«fast food [fast´fud] s. f. género de comida que se prepara e serve rapidamente, como sanduíches e hambúrgueres. s.m. o restaurante que serve rapidamente esse tipo de comida.»

Não regista junk food.

A consulta destas definições permite sugerir que fast-food (ou fast food) não é bem o mesmo que junk-food (opto pela forma hifenizada). A este é intrínseco um juízo de valor negativo («má alimentação, má comida»); àquele associam-se as ideias de preparação e serviço rápidos. Por outras palavras, considero que muita da junk-food é fast-food, mas a fast-food não é necessariamente junk-food: assistimos actualmente a uma tentativa de alterar o conceito de fast-food introduzindo comida mais saudável, como por exemplo, sopas, saladas e sumos naturais.

2. Passemos à expressão come-em-pé, corrente em português europeu. Trata-se de uma palavra que ainda não está dicionarizada, mas que poderemos definir do seguinte modo (procuro basear-me na própria definição do consulente):

«s. m. café ou pequeno restaurante onde se servem refeições com rapidez.»

Vemos que a come-em-pé se associam duas noções: rapidez e comida. Quer isto parecer-me que a significação de comer-em-pé recobre parte da de fast-food, desde que a acepção 2 do Dicionário Houaiss seja considerada. A principal diferença é, como observa bem o consulente, no modo de confecção: preparação rápida num fast-food; preparação que pode não ser assim tão rápida, mas que com antecedência permite um serviço rápido num come-em-pé.

3. Concluo que não se deve confundir come-em-pé com fast-food ou junk-food, quando estes anglicismos se referem a comida. Mas pode-se propor que come-em-pé traduza o substantivo masculino fast-food, desde que se tenha em mente a rapidez de serviço e se esqueçam diferenças na confecção dos alimentos.

1 Apesar de o Dicionário Houaiss grafar junk food sem hífen, parece-me preferível usá-lo por uma questão de coerência com fast-food (ver A grafia do inglês fast-food). O Dicionário Unesp do Português Contemporâneo (São Paulo, Ediora Unesp, 2003) regista junk-food.

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