É verdade que o plural de transtorno fecha o o da penúltima sílaba, pelo que se pronuncia "transtôrnos", seguindo o modelo de bolo/bolos. A rigor, não é o plural que é metafónico mas sim o singular masculino, cujo o da penúltima sílaba se fecha por assimilação do o final, que historicamente remonta a um [u] latino. É assim que novo tem "o fechado" (símbolo fonético [o]), porque remonta ao latim vulgar novu-, mas nova tem "o aberto" (símbolo fonético [ɔ]), porque o a final é uma vogal "aberta"; e a penúltima sílaba de novos também se pronuncia com "o aberto", podendo explicar-se historicamente este facto pela existência, no plural latino, de um o final (novos) com maior grau de abertura que -u-.
Ainda se pode detectar alguma regularidade neste fenómeno quando comparado com o castelhano:
(1) latim vulgar focu-/focos > português: f[o]go ~f[ɔ]gos; castelhano: fuego/fuegos
(2) latim vulgar lupu-/lupos > português: l[o]bo ~ l[o]bos; castelhano: lobo/lobos
A comparação de (1) com (2) sugere que há metafonia em português, quando ocorre o ditongo <ue> (transcrição fonética: [wɛ]) nas palavras castelhanas cognatas (isto é, que têm o mesmo étimo que as palavras portuguesas). Infelizmente as coisas não são tão simples, porque basta lembrar o caso de acordo/acordos, no qual não se verifica a metafonia, apesar de em castelhano as formas correspondentes exibirem o ditongo – acuerdo/acuerdos.
Não existe, portanto, um critério infalível que permita prever quais as palavras masculinas que sofrem metafonia no português contemporâneo. Em compensação, os dicionários mais recentes, por exemplo, o Houaiss e o da Academia das Ciências de Lisboa, assinalam o plural "metafónico" nos verbetes dos vocábulos masculinos que o têm.