O género do estrangeirismo parece depender o mais das vezes da palavra equivalente em português. No entanto, há também tendências definidas por certas sequências sonoras que podem ser encaradas como unidades morfológicas a que se atribui o género feminino.
Os exemplos de estrangeirismos adaptados ao feminino mencionados na pergunta não têm as características fonéticas correspondentes, porque não têm o -a final (o índice temático) que normalmente associamos a esse género. O mesmo se pode dizer dos anglicismos masculinos, que não ostentam o -o final do masculino. Por exemplo, quer o grupo constituído por password, web, net, no feminino, quer o de rap, skate, puzzle, todos no masculino, apresentam consoantes que não são possíveis em posição final — até porque o -e final de drive ou skate não é pronunciado nestes casos, e puzzle é mesmo muito especial. Mesmo que, ao pronunciarmos essas palavras, as interpretemos como uma sílaba formada por elas e um "e" final (pronunciado [ɨ], em português europeu, ou [i], em português do Brasil), a indefinição do género mantém-se, porque, em português, nem todas as palavras terminadas em consoante + "e" pertencem ao mesmo género: «a frente»/«o crescente»; «a diatribe», «a sebe», «a urbe»/«o adobe», «o bibe», «o derrube»; «a estirpe», «a gripe»/«o escape», «o galope».
Demos um exemplo: por que razão se diz «o after-shave» e não «a after-shave», quando sabemos que se trata de uma loção? É porque cheira bem e se assemelha ao que se designa perfume, que é masculino? É porque pensamos em «o momento depois de fazer a barba»?
Mas há também variação na adaptação de anglicismos: por exemplo, os portugueses dizem «a drive», e os brasileiros, «o drive» (ver dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e Dicionário Houaiss). Será porque os portugueses pensam em «ranhura», «câmara», e os brasileiros, em «acionador» (cf. Dicionário Houaiss)?
É na verdade um tema fascinante que requer um estudo exaustivo. Por enquanto, e no contexto da disponibilidade do Ciberdúvidas, é o que consigo dizer sobre a atribuição de género aos anglicismos.