Ainda não há registo nos vocabulários ortográficos da forma aportuguesada do topónimo japonês Fukushima [Fukushima-shi, [ɸu͍̥ku͍ꜜɕima]. No entanto, e tendo por base a indicação formulada na Base I [Do alfabeto e dos nomes próprios estrangeiros e seus derivados] do Acordo Ortográfico de 1990 — «Recomenda-se que os topónimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam, tanto quanto possível, por formas vernáculas, quando estas sejam antigas e ainda vivas em português ou quando entrem, ou possam entrar, no uso corrente» — que, por sua vez, respeita o proposto, desde 1947, por Rebelo Gonçalves, no seu Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (Coimbra, Atlântida, 1947, p. 3) — «é anormal o uso de k, w ou y, que, quer em palavras portuguesas, quer em palavras aportuguesadas, devem ser substituídas pelas correspondentes representações vernáculas: c ou qu, e não k; u ou v, e não w; i e não y» —, é legítimo substituir-se o k por c, assim como a combinação gráfica sh ser alterada para x (uma vez que este sh não corresponde ao som tch, o que implicaria o uso de ch)1.
Assim, e tendo como referência o aportuguesamento dos topónimos japoneses Hiroxima (de Hiroshima), Nagasáqui (de Nagasaki), Ósaca (de Osaka) registados no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves (que respeita a reforma ortográfica de 1945), em que o k é substituído por c, e o ch por x, a forma aportuguesada de Fukushima é Fucuxima.
Pensa-se que a grafia utilizada no Diário de Notícias, Fucoxima, em que ocorre um o átono na antepenúltima sílaba em vez de u (da palavra original), deve ter sido fruto de uma possível analogia a Hiroxima. Sem deixarmos de manifestar o nosso apreço pela atitude louvável desse jornal em prol de formas portuguesas dos topónimos estrangeiros, não podemos, no entanto, deixar de assinalar que o aportuguesamento desta palavra não altera as vogais do nome estrangeiro Hiroshima. Por isso, se o nome da província e da cidade japonesa é transcrito como Fukushima, com as vogais u nas duas primeiras sílabas, é natural que as mesmas se mantenham na forma aportuguesada. E, decerto, que a transliteração do japonês para a palavra inglesa Fukushima, procura representar os sons da palavra original. Se o nome Hiroshima ocorre com o na 2.ª sílaba e Fukushima com u na 1.ª e 2.ª sílabas, isso significa que o som produzido pela sílaba da primeira palavra é diferente do das duas sílabas do segundo nome, conforme se pode verificar pela transcrição fonética. Portanto, a grafia portuguesa deverá respeitar essa realidade. Portanto, Fucuxima, e não "Fucoxima".
[Nota final: no Brasil, a avaliar pelas ocorrências na Internet, mantém-se a forma estrangeira Fukushima.]
1 Rebelo Gonçalves, no seu Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (op. cit.), explica que «dada a homofonia existente entre certas consoantes, torna-se necessário diferençar os seus empregos gráficos, que fundamentalmente se regulam pela etimologia e pela história das palavras.
a) Distinção entre c, representante da gutural surda antes de a, o, u, ditongo iniciado por uma dessas vogais, ou qualquer consoante, e o digrama qu, representante da mesma gutural antes de e, i ou ditongo por e ou i: Carnaque é o aportuguesamento da forma nacional estrangeira Karnak.; Quioto, a substituir Kioto.
b) Distinção entre ch e x:
A forma aportuguesada Camchaca foi recomendada por Gonçalves Viana, em Ortografia Nacional (p. 230), evitando-se a estrangeira Kamtchatka. Chade como substituto de Tchad, proposta por Fortunato Almeida em Nomenclatura Geográfica, e adotada pelo Vocabulário da Academia das Ciências de Lisboa, constitui, pela adição do e final, mais completo aportuguesamento do que a forma Chad, proposta por Gonçalves Viana. Checoslováquia, forma fixada pelo Vocabulário da ACL e que se deve preferir a Tchecoslováquia. Caxemira ou Caxemir para substituir a forma estrangeirada Kachmir.