Tenho escrito em Ciberdúvidas (e numa linha geral um pouco semelhante à do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa — VOLP — brasileiro) que sigo nos meus trabalhos, em resumo, os seguintes critérios no estabelecimento dos vocábulos para o novo Acordo Ortográfico (AO):
1 Respeito estrito pelo texto do Acordo de 1990. Variantes diferentes serão “não preferenciais”.
2 Coerência nas soluções adoptadas, sem contrariar 1.
3 Atender à tradição naquilo que não estiver taxativamente regulamentado no novo AO (e naquilo que se depreender dos exemplos escolhidos).
4 Simplificação no que for francamente útil e não colidir com os critérios anteriores.
5 Unidade, atendendo aos vocábulos que foram escolhidos no VOLP brasileiro, sem sacrificar as nossas variantes peculiares (ex.: húmido para Portugal, etc.).
Destinado a uma publicação com um anexo didáctico pormenorizado sobre o que muda e o que fica sem alteração no novo AO, já estudei este problema do “paraquedas” e do “paraquedista” estabelecidos no texto do novo AO. O que tenciono propor será (texto entre aspas):
«Paraquedas: O novo AO (e seguindo o critério do respeito pela tradição) não exige que sejam alterados os compostos com o antepositivo para- (sem acento é agora também a grafia da forma verbal no novo AO), mantendo o hífen: para-brisas, para-choques, para-raios, para-sol, etc. Das duas, uma: ou se deveriam aglutinar todas estas palavras atrás, ou paraquedas, paraquedista, paraquedismo estão incoerentes. Aglutinar todas aquelas palavras que têm hífen levanta problemas, pois os compostos nos quais o primeiro elemento é uma forma verbal normalmente têm hífen (veja-se no AO: conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva).
Assim... regist{#|r}a-se paraquedas, paraquedista, paraquedismo, em obediência ao texto do AO, como lei de base, mas recomenda-se a sugestão para estudo num vocabulário comum: “para-quedas”, “para-quedista”, “para-quedismo”, todas com hífen.»
Em resumo, louvo o ILTEC no discernimento em ter proposto, com hífen, para-quedas e para-quedista, mas penso que deveria ter sugerido estas soluções unicamente como «alternativas não preferenciais», não como variantes ortográficas.
Senti-me honrado por ter pertencido ao grupo de consultores do ILTEC para o estudo do seu laborioso e cuidado Vocabulário Ortográfico do Português (VOP) para o novo AO. Se algumas das minhas sugestões foram seguidas, não o foram todas (tem havido também um desacordo quanto ao hífen no ponto 3 dos meus critérios); mas sempre digo que não faço lei na língua...
Sublinho que se o VOP do ILTEC for considerado o documento oficial para Portugal, segui-lo-ei respeitosamente em tudo. Enquanto o não for, preferirei os critérios acima resumidos, adoptados em reunião de especialistas na Sociedade da Língua Portuguesa.