Na reforma ortográfica portuguesa de 1911 escrevia-se: uma «….. feição essencial numa ortografia ….. é a regularização da sua acentuação gráfica, por meio da qual se diferencem palavras que se escrevam com as mesmas letras, mas tenham pronunciação e significação diversas ….. em idiomas em que, como acontece em português, a acentuação tónica/tônica pode afectar/afetar uma qualquer das tês sílabas finais». E na base XXVII citavam-se os exemplos de fábrica e fabrica, réplica e replica, índico e indico, história e historia, telégrafo e telegrafo.
O acordo de 1945 manteve o mesmo critério nas esdrúxulas e taxativamente prescreveu o acento nas proparoxítonas aparentes (em rigor paroxítonas) como água, colónia/colônia, ténue/tênue, tríduo, etc.
Os corajosos linguistas/lingüistas do projecto/projeto de acordo de 1986 permitiam a supressão do acento nas proparoxítonas, mas escreviam: «Em casos de ambiguidade contextual que possa ser desfeita pela acentuação gráfica, fica facultativo o uso do acento para derimi-la. Não há, por exemplo, ambiguidade contextual em `fabricas o que quiseres´ com `fábricas cibernetizadas´ …..». Uniformizavam, assim, as diferenças de timbre entre Portugal e o Brasil nas proparoxítonas com tónica/tônica em o/e, seguidas de m/n, com as quais não formam sílaba (ex.: académico e acadêmico, António e Antônio, etc.). Mas este projecto/projeto foi considerado um escândalo por algumas pessoas em Portugal: o exemplo típico apontado seria o risco de uma má leitura do cágado sem acento…. Por mim, confesso que só depois de ter lido e assimilado todo o extenso preâmbulo desse documento, é que reparei que, nele, como aplicação da norma, as esdrúxulas já não estavam acentuadas…
O novo acordo ortográfico (novo, de 1990…) mantém o acento nas proparoxítonas, recuando na inovação. Para resolver a diferença de timbre (e outras diferenças), generaliza as duplas grafias, que passam a ser todas legais na comum língua (ex.: António/Antônio, facto/fato, etc.). E agora a crítica que se faz é a abundância de duplas grafias (em que aliás, por exemplo, o Aurélio já é bem generoso actualmente/atualmente).
Por mim, perfilho a opinião formulada sabiamente nessa reforma notável de 1911: «Na escrita comum parte desta acentuação rigorosa e sistemática poderá, em algumas das suas minúcias, ser dispensada; não porém em livros didácticos/didáticos, como gramáticas, dicionários, compêndios …..»
Para terminar, ocorre-me que, não obstante as minúcias da actual/atual acentuação gráfica normalizada, continua a ser difícil, fora de contexto, distinguir por exemplo pega ¦é¦ de pega ¦ê¦, paisinho ¦pa-í¦ de paizinho ¦pái¦; ou evitar a confusão entre ¦biópsia¦ e biopsia, ¦alcolémia¦ e alcolemia, ¦termostáto¦ e termóstato, ¦Heráclito¦ e Heraclito, etc. Esteja ou não o acento na palavra, a sua ortoépia recomendada no contexto e a prática da pronúncia preferida pela comunidade culta respectiva/respetiva são sempre as orientações fundamentais.
Ao seu dispor,