O verbo parecer é um verbo que se constrói com um sujeito e um predicativo do sujeito, segundo o esquema «alguém parece alguma coisa»:
(1) «O João parece feliz.»
Também se usa com uma oração subordinada substantiva que tem a função de complemento direto:1
(2) «Parece que o João está feliz.»
Esta oração pode ter o verbo no infinitivo:
(3) «O João parece estar feliz.»
Em todos os exemplos, é possível juntar um complemento que designa a pessoa ou pessoas a quem alguma coisa ou alguma situação parece:
(5) «Parece-me/nos que o João está feliz.»
(6) «O João parece-me/nos estar feliz.»
Em (4), (5) e (6), não há nenhuma incorrecção, porque o verbo parecer concorda com a expressão «o João» em (4) e (6) e é impessoal em (5), o que significa que se usa na 3.ª pessoa. Por outras palavras, os pronomes «-me» e «-nos» não são sujeitos e, por conseguinte, o verbo não tem de concordar com eles. Acresce que a estes pronomes raramente é atribuída a função sintáctca de sujeito.
Em relação a «por favor», é expressão usada no português do Brasil e também em Portugal, país onde entra em alternância com «se faz favor». Vernáculas são ambas as expressões, e dizer que «se faz favor» é «mais bonito e elegante» é uma questão de gosto e não de uso normativo. Como os gostos afinal se discutem, um brasileiro pode muito achar que «se faz favor» soa mal e que «por favor» é mais elegante por ter menos palavras e não dar, por exemplo, a impressão de gaguejo sugerida pela repetição de efes em «faz favor».
1 Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo (Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 444) e Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 484), consideram que tem função de sujeito a oração substantiva associada ao verbo parecer. No entanto, João A. Peres e Telmo Móia (Áreas Críticas da Língua Portuguesa, Lisboa , Editorial Caminho, 1995, pág. 249/250) propõem que «[...] o verbo parecer tem um único argumento, que não recebe o estatuto de sujeito», posição adotada pela linguística portuguesa mais recente (cf. M.ª Helena M. Mateus et al. Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, 2003, pág. 634).