1. Em nenhum tipo, género ou subgénero textual é aceitável a mistura aleatória de tempos verbais.
2. O emprego do presente histórico remonta à retórica clássica e é visado na gramática tradicional, com a seguinte descrição: o presente histórico tem a função de atribuir vivacidade, presentificação, visualismo, dramatização, imediatismo presencial às acções narradas, nos momentos do discurso particularmente comoventes ou fulcrais para o desenvolvimento da trama narrativa. Estes valores decorrem do carácter acidental ou "impróprio" da activação do presente num contexto que recorre maioritariamente a formas do passado.
Não há nenhum constrangimento da ordem da proximidade/contiguidade no que respeita à transição tempos da série do passado — presente histórico. Há, talvez, um constrangimento quanto ao número de transições: o recurso constante ao presente histórico neutraliza os valores acima enumerados. Além disso, o presente histórico só é reconhecível como tal quando, em contextos de que faz parte, apareçam tempos do passado ou datas (Fátima Oliveira e Ana Cristina Macário Lopes, 1995, "Tense and aspect in portuguese", in R. Thieroff (Org.) — Tense Systems in European Languages II, Tubingen, Max Niemeyer Verlag: 105). De referir ainda que deve estar presente uma «certa sequência de situações». (Fátima Oliveira, 2003 — Gramática da Língua Portuguesa, Caminho: 155)
3. A contiguidade do presente histórico com o pretérito perfeito, o pretérito mais-que-perfeito ou o imperfeito pode, portanto, ser imediata:
«Tinha-me afastado uns passos para ver mais de perto esse camião, quando o Ahmed me lança um grito...» (Miguel Sousa Tavares, Sahara: "A República da Areia", Amigos do Livro: 115).