1. A palavra que se escrevia pé-de-moleque passa a escrever-se sem hífen, pé de moleque, segundo a Base XVI do Acordo Ortográfico de 1990, como aliás se pode verificar pela respectiva entrada, não hifenizada, da 5.ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras. A perda do hífen não significa que pé de moleque deixe de ser um composto, porque o facto de lhe ser atribuída entrada no VOLP significa que a forma é reconhecida como unidade vocabular autónoma.
2. Se a datação provém de um dicionário (a do Dicionário Houaiss é a mesma referida pelo consulente), não podemos daí inferir que a palavra tenha sido formada à roda dessa data. Pode muito bem acontecer que a datação seja aproximativa ou que o termo fosse corrente no discurso oral muito tempo antes de ter sido recolhido. Ou seja, é difícil determinar tendências históricas com base nas datações propostas por dicionários gerais. É, pois, necessário investigar mais aprofundadamente.
3. Tendo em conta as acepções do termo (Dicionário Houaiss), é de presumir uma criação metafórica, talvez, como é sugerido, por causa da forma do doce em causa:
«1 doce consistente feito de açúcar ou rapadura com amendoim torrado; 2 Rubrica: culinária. Regionalismo: Nordeste do Brasil. bolo feito de mandioca, fubá, coco e açúcar; 3 Rubrica: culinária. Regionalismo: Angola. amendoim torrado, descascado e triturado posto em calda de açúcar temperada com erva-doce até o ponto de cortar; feito em torrões (colocados em cartuchos cônicos) ou placas triangulares ou retangulares; 4 Regionalismo: Minas Gerais, Centro-Oeste do Brasil. calçamento de rua com pedras irregulares de tamanhos diversos.»
De qualquer modo, tendo em conta, as fontes consultadas, não é possível explicar cabalmente a motivação histórica do composto em causa.
N. E. – O consulente Rui Oliveira (Amora, Portugal) enviou-nos uma explicação etimológica, que, embora não possamos confirmar noutras fontes, parece bastante sugestiva. Com os nossos agradecimentos, trancrevemo-la a seguir:
«Adianto uma outra explicação, colhida numa viagem feita ao Brasil, concretamente, em passeio por Minas, em saudosa companhia.
Conhecem o bolo/guloseima «pé de moleque»?
Pois é, a guloseima era preparada e posta a secar ao sol, nos parapeitos das janelas. Só que os moleques, apanhando a cozinheira distraída, devagarinho junto à parede, do lado de fora, metiam a mão e roubavam um daqueles docinhos. Aí, quando a cozinheira dava conta, ela corria para a janela e gritava: «Não rouba; pede, moleque!» E lá ficou o docinho conhecido por «pé de moleque».
Os ditos do povo/povão sempre permitem várias interpretações. E, vá lá alguém saber qual a sua origem!»