A palavra pregão denomina qualquer forma de anúncio vocal associado à venda, por vendedores ambulantes, de géneros ou produtos de qualquer tipo – de tachos e panelas à sardinha e ao carapau.
Começando por recordar os versos do famoso fado cantado por Carlos do Carmo (1939-2021):
Lisboa menina e moça, menina
Da luz que meus olhos vêem tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura
Nestes versos, ocorre o nome pregão sem referência concreta, podendo,portanto, aludir a qualquer tipo de pregão.
Os pregões podiam ser (e ainda são,os que restam) de vários tipos em função do que se vendia no comércio ambulante. Exemplos:
(1) Quem quer figos, quem quer almoçar! (hoje em desuso)
(2) Olha a fava-rica! (hoje desaparecido, porque já não é hábito preparar a fava-rica1).
(3) Quentes e boas! (para a venda de castanha assada)
(4) Olhà bolinha! (hoje corrente entre vendedores de bolas de Berlim, nas praias da região de Lisboa, durante o verão)
Encontram-se vários outros exemplos em Pregões de Lisboa Antiga.
A palavra pregão terá origem no latim praeco, ōnis «pregoeiro público, arauto, o que proclama, anuncia ou diz em público» (Dicionário Houaiss; ver também Infopédia). Poderia pensar-se que é um derivado de pregar, cuja primeira sílaba tem e aberto átono; se assim fosse, o vocábulo em causa soaria "prègão", também com e aberto átono. Mas não é assim que acontece, pelo menos, na região de Lisboa, onde a referida vogal se pronuncia como o e de se, isto é, como o chamado «e mudo».
1 A fava-rica é «fava seca que, depois de cozida e temperada, se usa na alimentação» (Infopédia), mas também denota a fava seca cozinhada de certa maneira tradicional (ver aqui).