A transcrição do infinitivo de alertar é [ɐlɨɾ`taɾ], com e mudo, sempre que a sílaba -ler- for átona (por exemplo: alertamos, com e mudo, mas alerto, com e aberto). Apesar disso, é preciso atentar no que assinala António Emiliano em Fonética do Português: Descrição e Transcrição (Lisboa, Guimarães Editores, 2009, pág. 251) sobre «reposição de vogais átonas não reduzidas em derivados ou em início de palavra»:
«[...] está em franca expansão o número de formas que apresentam vogais átonas não reduzidas, ou seja, formas que contêm excepções ao processo de elevação do vocalismo átono, importante aspecto da fonologia do português europeu que resultou no fechamento generalizado das vogais em posição inacentuada. As formas inovadoras integram-se em diversas rubricas: nalguns casos, a reposição de vogais "abertas" é o resultado da extensão do processo de preservação da vogal tónica da forma simples em derivados (e. g. "al[ɛ]rtar" por "al[ɨ]tar", por influência de "al[ɛ]rta", noutros casos a reposição resulta de simples analogia (e. g. "iter[a]ção" por "iter[ɐ]ção", por analogia com palavras excepcionais como "[a]cção"), noutros casos ainda, a reposição ocorre em posição inicial de palavra, em virtude de spelling pronunciation reforçado pela tendência fonológica do português para a abertura de vogais em posição inicial (e. g. "[a]lerta" por "[ɐ]lerta", "[e]xacto" por "[i]xacto", "[o/ɔ]relha") [...].»
Note-se contudo que esta tendência não é incluída na descrição da pronúncia-padrão que é proposta por A. Emiliano, «[...] por terem carácter marginal (em termos extensionais e culturais)». Por conseguinte, "al[ɨ]rtaɾ" é ainda a forma mais adequada do ponto de vista da norma.
Quanto aos casos de antiepilé{#p|}tico e Egi{#p|}to em português europeu, importa acrescentar o seguinte:
1. Antiepilético
Mesmo com a ado{#p|}ção do novo acordo ortográfico, a palavra em apreço continuará a escrever-se sem hífen. Contudo, em Portugal, perderá o p mudo, como sucederá com epiléptico, visto, em português europeu, a pronúncia-padrão não incluir [p] (ver Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, e dicionário da Academia das Ciências de Lisboa).
2. Egipto/Egito, egiptólogo
Tradicionalmente, no português europeu, a pronúncia de Egipto não inclui [p] (ver António Emiliano, Fonética do Português Europeu: Descrição e Transcrição, Lisboa, Guimarães Editores, 2009, pág. 92); não se pode, portanto, afirmar que deixamos de pronunciar p (embora alguns falantes o façam). Contudo, em egiptólogo, articula-se essa unidade fonética, conforme se verifica pela transcrição da palavra disponível no dicionário da Academia das Ciências de Lisboa. Esta pronúncia é confirmada pela entrada egiptólogo do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, e do Vocabulário Ortográfico do Português, do Instituto de Linguística Teórica e Computacional.
Há realmente falantes que pronunciam esse [p], muitos deles conscientes disso, com o argumento de que o [p] se articula e ouve em egiptólogo e egiptologia, que são termos cultos; penso que daqui há uma extrapolação para Egipto, na crença de que as formas mais corretas são as de tradição culta. Não é assim; fontes lexicográficas de meados do século XX (por exemplo, o Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves) indicam que, pelo menos até há alguns decénios, a pronúncia-padrão de Egipto não tem [p]. Se seguíssemos sempre um critério culto, assente no hábito de pronunciar tudo o que se escreve ou manter grafemas entre palavras da mesma família, poderíamos recuperar a forma "herba" em lugar de erva, visto existir herbário e herbáceo, mais próximos de formas latinas.
N. E. – Resposta atualizada em 04/02/2025.