«Na actual norma portuguesa da língua, este verbo, quando na acepção de "ter necessidade de", pede objecto indirecto*; há, porém, bom número de abonações de autores portugueses clássicos, como Camilo e Bocage, que o empregam com transitividade directa**; na verdade, na língua, a regência deste verbo oscila entre uma coisa e outra, com peso maior para o objecto indirecto, tanto no Brasil como em Portugal, excepto quando a ele se segue outro verbo no infinitivo, caso em que, em Portugal, se usa sempre seguido de preposição (preciso de fazer, precisava de sair, precisou de se explicar), enquanto, no Brasil, tal emprego tem vindo a rarear (preciso fazer, precisava sair, precisou explicar-se).»1
O facto de um dado uso ser menos frequente não quer dizer que passe a ser classificado como uso incorrecto.
Acresce que há atestações de precisar de + infinitivo em autores brasileiros da segunda metade do século XX:
«Delfino precisava de ser prudente.» António Callado — A Madona de Cedro, 1957.
«— Eu precisava de ter uma lembrança dela»; «Este precisava de feri-lo, vingar a história dos bois.» Osman Lins — O Fiel e a Pedra, 1961.
«Ruth notou que a bata branca de Antonio mudara de cor, precisava de ser lavada.» Antonio Olinto — Sangue na Floresta, 1993.
*com recurso à preposição
**sem recurso à preposição
1 Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Lisboa, Tema e Debates, 2003