O caso apresentado é um dos casos particulares dos «Tipos de clíticos especiais em português» tratados por Ana Maria Brito, Inês Duarte e Gabriela Matos (Mira Mateus et alii, Gramática da Língua Portuguesa, 6.ª ed., Lisboa, Caminho, 2003), caso este que «envolve o estatuto das preposições como atractores de próclise» (ob. cit., p. 863).
Segundo as linguistas citadas, à excepção da preposição a — que não está marcada como atractor de próclise e cujo padrão obrigatório é a ênclise —, «o padrão da colocação esperado é a próclise, [pois] as restantes preposições, quer integrem ou não complementadores complexos, são marcadas como palavras funcionais pesadas» (idem, p. 864), realidade que fundamentam com alguns dos seguintes exemplos:
(i) Confirma a hora antes de lhe telefonares.
(ii) Preciso de te encontrar.
(iii) Telefonei à Maria para a convidarmos para a festa.
(iv) O João está irritado por se ter esquecido da reunião.
No entanto, é colocada também a possibilidade da ênclise, «quando na frase não finita ocorre infinitivo não flexionado» (idem), apresentando os mesmos exemplos do seguinte modo:
(i) Confirma a hora antes de lhe telefonares/(?)telefonar-lhe.
(ii)Preciso de encontrar-te.
(iii) Telefonei à Maria para a convidarmos para a festa/convidá-la para a festa.
(iv)O João está irritado por se ter esquecido da reunião/(?)ter-se esquecido da reunião.
Servindo-nos destes princípios, damo-nos conta de que qualquer uma das hipóteses apresentadas pelo consulente para cada um dos exemplos é possível, porque se trata de um caso em que há um infinitivo não flexionado, o que permite as duas situações:
a) Tenho de lhe dizer./Tenho de dizer-te.
b) Necessito de te falar./Necessito de falar-te.
De qualquer modo, apesar de ser apresentada a possibilidade da colocação do clítico após o infinitivo não flexionado (ênclise), a próclise é considerada como a posição privilegiada pelas linguistas, que concluem do seguinte modo: «a próclise é o padrão de colocação obrigatório com infinitivo flexionado e preferencial com infinitivo não flexionado» (idem, p. 865).