As formas Argel e Argélia terão surgido por metátese, isto é, por troca de posição de segmentos na estrutura silábica da configuração mais antiga destes nomes, Alger e Algeria, talvez empréstimos do catalão ou do italiano1. A alteração deve ser bastante precoce na história destes nomes em castelhano e em português, pois parece já estável na documentação dos dois idiomas, pelo menos, desde o séc. XVI (cf. José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa e Corpus diacrónico del español – CORDE da Real Academia Espanhola).
Observe-se que, em posição inicial, é possível identificar alguns casos de substituição de /l/ por /r/, por exemplo, por dissimilação, como acontece com argola, do árabe andalusi alġulla, que vem por sua vez do árabe clássico ġull «cepo; peça de madeira posta ao pescoço dum condenado» «(cf. Federico Corriente, Diccionario de Arabismos y Voces Afines en Iberromance, Gredos, 2003)2. A toponímia de Portugal também faculta exemplos deste tipo não de origem árabe, mas de origem românica, como Argozelo (Vimioso), atestado num documento medieval com a grafia Ulgusello, o que sugere que, além de se ter registado uma substituição vocálica, ocorreu uma dissimilação, levando o l da primeira sílaba da forma medieval a diferenciar-se como r na forma mais recente (cf. Machado, op. cit.).
1 Argélia/Algeria deriva de Argel/Alger. É consensual a etimologia de Argel/Alger que se regista no Dicionário Houaiss (s.v. argelino): «o nome da cidade, Argel, provém do árabe El-Jezāir, ou Al-Djazāir "as ilhas", que bordam a costa do sítio e foram habitadas pelos Bāni Mezghanna, berberes arabizados; c. 940, Bulugir az-Ziri fundou aí uma colônia que se chamou Al-jezāir Bani Mezghanna [...]» (ver também Machado, op. cit.).
2 O Dicionário Houaiss regista uma etimologia alternativa que acarreta uma explicação diferente da troca fonética em causa: «a forma portuguesa e espanhola Argel (compare-se francês Alger, inglês Algiers) pode ter sofrido influência do adjetivo argel "relativo a cavalo que tem branca a pata dianteira direita" [..]». Neste caso, não se falaria de metátese, mas, sim, de analogia. Acrescente-se que argel, na referida aceção, vem do árabe arjal, "cavalo branco com malhas brancas nas patas traseiras" (cf. Corriente, op. cit.; manteve-se a transcrição do árabe adotada por este autor).