O verbo liberar usa-se mais no Brasil do que em Portugal. Com efeito, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, regista o verbo liberar como sinónimo de libertar, nas acepções de «tornar livre ou quite» e «desobrigar», mas classifica-o como brasileirismo quando é usado em lugar de liberalizar, no sentido de «autorizar, como medida geral, o livre mercado de certas mercadorias», embora com o significado de «conseguir ou conceder a liberação de determinada quota de mercadoria, cuja fiscalização o Estado exerce em épocas normais» o mesmo dicionário não indique uso preferencial numa das variedades em apreço.
De qualquer modo, confirma-se que, em português europeu, liberar é de uso muito limitado, visto o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, não acolher este verbo, e uma pesquisa no Corpus do Português de Mark Davies e Michael Ferreira revelar que as 67 ocorrências da forma liberar são todas provenientes de textos brasileiros, não havendo nenhuma recolhida em textos portugueses. Ainda sobre o corpus em referência, convém dizer que a frequência de outras formas da flexão do verbo – libera (43 ocorrências) e liberou (36 ocorrências) – aponta a mesma tendência, de claro predomínio das respectivas ocorrências em textos brasileiros e prática ausência em textos portugueses (3 ocorrências de libera, todas estão incluídas na frase latina «libera nos, Domine...»).
A respeito do uso de liberar noutros países de língua portuguesa, não possuo dados que configurem usos normativos claramente individualizados em relação à norma de Portugal, mas, dada a projecção que o português europeu continuou a ter mesmo depois da descolonização, julgo que também aí se prefiram os verbos libertar e liberalizar em lugar de liberar, pelo menos em textos formais.