A regra enunciada pelo consulente tem exceções, como é o caso do verbo em apreço. Com efeito, o particípio libertado pode associar-se ao auxiliar ser, na voz passiva, sem que isso seja condenável. Leia-se o que o Dicionário Houaiss anota a respeito da conjugação de libertar: «Há forte tendência ao uso do particípio regular libertado também em estruturas de voz passiva.» Refira-se ainda que o Dicionário Houaiss de Verbos da Língua Portuguesa (Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 2003, pág. 17) reforça esta observação quando integra o verbo libertar num certo tipo de verbos (sublinhado meu):
«[...] [E]mbora seja ainda preferida a construção da passiva com o particípio irregular (O fogo havido sido aceso.), há tendência ao uso da forma regular para todas as locuções verbais, sejam passivas (O fogo havia sido acendido.), sejam ativas (Haviam acendido o fogo.):
acender ∙ assentar ∙ benzer ∙ dispersar ∙ envolver ∙ enxugar ∙ expressar ∙ findar ∙ inserir ∙ isentar ∙ juntar ∙ libertar ∙ pegar ∙ restringir ∙ secar ∙ segurar ∙ sujar ∙ sujeitar»
Mas se recair a suspeita de parcialidade sobre estas duas fontes, porque são produtos da mesma entidade, o Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia, acrescente-se que o Manual de Língua Portuguesa (Coimbra, Coimbra Editora, 1989, pág. 312), de Paul Teyssier, indica que liberto é empregado na voz passiva, com ser, mas não na ativa, com ter, enquanto libertado é aceite nas duas situações.
Quanto à questão sobre o estado do jornalismo angolano, lamento, mas não me parece que uma resposta sobre dúvidas da língua portuguesa deva ter o alcance crítico desejado pelo consulente. Apenas posso pronunciar-me sobre o uso apresentado — que, como disse, está correto.