As preposições são elementos de ligação que têm variadas aplicações e de tal modo que não são suficientes para definirem claramente as funções sintácticas. Parece-nos que essa é uma das limitações da gramática generativa.
Para tentarmos ultrapassar esta dificuldade, devemos considerar a preposição que rege o complemento indirecto como elemento de um sintagma preposicional dependente do sintagma verbal.
As preposições que regem os complementos circunstanciais fazem parte dos sintagmas preposicionais independentes.
Exemplo: «[Eu] [dei uma prenda à minha irmã] [na quinta-feira passada].»
Parece-nos que devemos considerar três conjuntos de verbos:
a) Os verbos copulativos.
b) Os verbos transitivos que são acompanhados pelos complementos directos ou indirectos.
c) Os verbos intransitivos que não precisam de ser acompanhados por complementos directos ou indirectos.
Devemos notar que os verbos copulativos, os verbos transitivos e os verbos intransitivos não excluem os complementos circunstanciais.
Como sabemos, aquilo que é comum não identifica. Por isso, os complementos circunstanciais não podem servir para identificar uma classe de verbos, dado que todos podem ser acompanhados desses complementos.
Vamos agora ver algumas aplicações do verbo dar, exemplo de um verbo transitivo.
«Tu deste-me uma bela prenda.»
«Ele deu-me um murro a brincar.»
«Eles deram-se ao trabalho com alegria.»
«Ela deu uma grande queda.»
O verbo dar pode aplicar-se em variadíssimas situações. Só os complementos directos ou indirectos permitem a compreensão da acção.
No caso do verbo ir, percebemos sempre que há um movimento de um lugar para outro, ou um afastamento do lugar em que nos encontramos ou ainda um afastamento no tempo.
Se dissermos «ela vai bem vestida», a ideia de movimento mantém-se ainda que o centro de atenção passe para o atributo que lhe damos.
O verbo morar significa ter residência, por isso é intransitivo. O local de residência é circunstancial.
Com o verbo haver a situação é mais complexa, porque este verbo tende a afastar-se do seu significado inicial que era possuir. A nossa opinião sobre «Viveu há vinte anos» é a seguinte.
A frase «Viveu há duzentos anos» tem dois verbos em tempos finitos, logo tem duas orações. Estamos perante uma estrutura de superfície sintética que corresponde à estrutura profunda «(Ele) há duzentos anos (que) (ele ou ela) viveu». O verbo haver é impessoal e transitivo. Por isso prescinde do sujeito, mas implica dois complementos directos: «duzentos anos» e a oração integrante «que (ele ou ela) viveu».
Os complementos circunstanciais são introduzidos por advérbios ou por sintagmas preposicionais independentes ou por orações subordinadas.
Se não seguirmos este caminho, que relação existe entre os verbos viver e haver, na frase «Viveu há duzentos anos»?
A omissão do que e a transposição do verbo viver para o início ocultam a estrutura profunda subjacente: «Há duzentos anos que ele viveu». Tal como dizemos vulgarmente: «Há uma semana que não te vejo» ou «Há uma semana que te não via» e outras semelhantes.