1. Verbo reflexivo não é uma classificação da mesma ordem que verbo copulativo ou verbo transitivo, relativa ao tipo de predicação (predicado nominal vs. predicado verbal), razão pela qual essa classificação não consta da resposta em causa.
2. A classificação reflexivo/reflexo, na gramática tradicional, integra-se no domínio das formas de conjugação, a saber, conjugação pronominal e conjugação pronominal reflexa. O verbo que ocorre em conjugação pronominal reflexa será então um verbo reflexo/reflexivo.
No entanto, esta classificação oblitera distinções importantes do valor do clítico, como sejam:
-se argumental reflexo: «Ele veste-se sozinho.»
-se argumental passivo: «Vendem-se casas no Algarve.»
-se não-argumental-inerente: «Eles riram-se do Zé.»
-se não-argumental-inacusativo: «O espelho não se partiu com a queda.»1
3. A definição dada para verbo reflexo/reflexivo é a de que a acção expressa pelo verbo recai sobre o sujeito que a pratica.
Ora, em «A Joana sentiu-se mal», e em construções afins, o sujeito não é agentivo, pelo que o exemplo não se afeiçoa à definição.
É, portanto, de considerar, de entre as opções possíveis, a interpretação de se inerente para «sentir-se mal».
4. Se desconfiado, em «Luísa sentiu o marido desconfiado», é predicativo do objecto directo, como de facto é, então sentir não pode ser «essencialmente transitivo», mas «transitivo-predicativo», dado que realiza um predicado verbo-nominal.
5. «Luísa sentiu-se desconfiada»: a frase, semanticamente, pressupõe um desdobramento do sujeito: a Luísa que desconfia e a Luísa que sente que desconfia. Daí que a frase, não sendo impossível, é, seguramente, de muito baixa frequência.
1 DUARTE, I.; MATOS, G. (1994) “A colocação dos clíticos em português europeu e a hipótese minimalista”. Atas do X Encontro Nacional da APL. Lisboa: Associação Portuguesa de Linguística: 177-193.