Celso Cunha e Lindley Cintra, na sua Nova Gramática do Português Contemporâneo, apresentam mais alguns casos em que uma forma verbal se apresenta no singular quando pertence a uma oração com mais de um sujeito. Para além da circunstância referida (o verbo antecede um sujeito composto), apontam ainda as seguintes (os exemplos também são retirados da NGPC):
– Quando os sujeitos são sinónimos/sinônimos ou quase sinónimos/sinônimos («A conciliação, a harmonia entre uns e outros é possível», A. Abelaira);
– Quando há uma enumeração gradativa («O grotesco, o pobre, o sem forças era triturado agora na pressão dessa grande cidade», A. Bessa Luís);
– Quando os sujeitos são interpretados como se constituíssem em conjunto uma qualidade, uma atitude («A grandeza e a significação das coisas resulta do grau de transcendência que encerram», M. Torga).
A resposta às perguntas «Qual a origem destas regras? O que as justifica?» na verdade não pode ser dada com exactidão/exatidão. A concordância da forma verbal com apenas um dos sujeitos da frase quando esta contém vários sujeitos coordenados por meio de uma copulativa já se atesta nos autores latinos e, possivelmente, o Português continuou esta possibilidade.
No que toca à justificação da regra, podem-se considerar duas questões: porque é que os gramáticos normativos como Napoleão Mendes de Almeida consideram tais frases correctas/corretas?; porque é que o Português admite tal possibilidade independentemente de quaisquer juízos de valor sobre estas construções? Quanto à primeira, provavelmente o que se passa é que os puristas consideram esta possibilidade legítima porque ela se manifesta nos escritores da nossa língua (como se pode ver pelos
exemplos acima expostos) e também porque já era usada pelos autores clássicos latinos (frequentemente a lógica é que se em latim está correcto/correto, em Português também estará). Quanto à segunda questão, deve, como é óbvio, haver uma justificação para a existência deste uso, pois, da pessoa mais culta à mais ignorante, ninguém fala de qualquer maneira, existem sempre regras por trás do que dizemos. A verdade é que, quanto a este caso assim como muitos outros, a resposta não é óbvia e ainda não se sabe a justificação.