1. A não aceitação das formas «analíticas» em lugar das «sintéticas» (para usar a terminologia do consulente) é uma questão que releva da tradição normativa. Do ponto de vista linguístico (que não se limita à dimensão lógico/formal), as descrições disponíveis revelam que, tanto em português do Brasil como em português europeu, nada impede a ocorrência das formas oblíquas preposicionadas (ou «analíticas») em lugar dos clíticos (ou «formas sintéticas»).
Sobre o problema que levanta em relação ao comportamento dos pronomes com a função de complemento, o que se preceitua em relação ao uso europeu é que, numa frase como a apresentada, o clítico é reforçado pela forma oblíqua uma vez («convidou-me a mim») e, depois, na oração coordenada com elipse, o clítico é omitido juntamente com o verbo ficando apenas a forma oblíqua: «convidou-me a mim, e não a ele» = «convidou-me a mim, e não o convidou a ele».
2. Quanto à segunda pergunta, a verdade é que a ocorrência de pronomes sujeito pode marcar diferentes estruturas, nas duas variedades, relacionando-se não só com a estrutura frásica mas também com a estrutura informacional. Isto significa que há que distinguir entre pronome que marca o sujeito frásico («Eu dar-lhe-ei toda a atenção», em português europeu e também possível em português brasileiro; «eu lhe darei toda a atenção», só em português brasileiro) e tópico frásico («Eu lhe darei toda a atenção» = «quanto a mim, dar-lhe-ei/lhe darei toda a atenção»).
Em relação ao português do Brasil, verifica-se que o clítico tende a ocorrer à esquerda do verbo, ao que parece, independentemente da presença de um pronome sujeito, mesmo em início de frase, como acontece no imperativo («me dá esse livro»; cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 317), apesar de a tradição normativa brasileira reprovar este uso (Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 588).
No português europeu, a próclise do pronome complemento em coocorrência com um sujeito expresso é também possível, mas em condições diferentes, conforme descreve Ana Maria Martins, num artigo intitulado "Clíticos na história do português à luz do teatro vicentino" (Estudios lingüística galega 3, 2011, págs. 83-109; exemplos retirados da fonte consultada; os sublinhados são meus):
a) quando um constituinte pré-verbal é focalizado, sendo a estrutura resultante parafraseável por uma construção clivada: «Para quem o julgava morto, eis que se mostra vivo (...) A estratégia é assumida. Ele o disse, quinta-feira, na breve declaração à imprensa que fez em directo da sua residência oficial.» (= «foi ele (próprio) que o disse»);
b) quando «uma asserção afirmativa é enfatizada, ganhando o enunciador visibilidade como garante da fidedignidade ou indubitabilidade da asserção produzida, eventualmente contra a expectativa ou as convicções do ouvinte» (Martins, op. cit. pág. 91): «Isto que digo, Miguel Torga o disse, a seu modo, antes de mim» (António Lobo Antunes, Visão, 20/09/2007).
Em suma, do ponto de vista da descrição linguística, a próclise do pronome átono que é característica do português do Brasil não se afigura decorrente da eventual ocorrência de palavras que atuem como atratores. No português europeu, o sujeito, realizado nominal ou pronominalmente, pode atrair a próclise de um pronome átono, mas só enquanto focalização ou ênfase, o que remete não apenas para a sintaxe mas também para a estrutura informacional de frases e enunciados.